A Carta ao Dr. Alberto,
Brasília, junho de 2009.
Prezado Dr.
Alberto,
tomo a
liberdade de lhe escrever, primeiro para agradecer a acolhida em sua Oficina de
Escrita, o Sr. não faz ideia de quanto isso tem sido importante para mim, ainda
me sinto intimidada diante dos outros participantes, mas acho que, com o tempo,
vou ganhando confiança, espero, e aprendo a escrever melhor, com sua prestimosa
ajuda, é claro. O segundo motivo desta carta é justamente a ESCRITA.
Tenho algumas ideias sobre o assunto
e gostaria de reparti-las com o Sr., mas surge sempre um pensamento automático
que se intromete por entre outros pensamentos meus, o de que uma reles
cabeleireira não deve estar a falar destas coisas... Ao vencer esta barreira,
então posso pensar melhor sobre o que tenho a dizer. Será que isso também
acontece com outras pessoas, independentemente da profissão e da importância
delas?
O que tenho a dizer começa pela ideia de que é de tanto ler que surge a
vontade de escrever. Quando a gente lê, nossa cabeça se enche de ideias dos
outros, de quem escreveu aquilo que lemos, e estas ideias vão se acumulando,
vão se misturando umas às outras em nossa mente, até que, a partir daí, começam
a brotar nossas próprias ideias. E são essas que aparecem quando a gente pega
papel, lápis e borracha e começa a escrever. É por isso que ouvi na Oficina que
é preciso ler para escrever. Concordo, Dr. Alberto.
Fiquei pensando no que disse uma moça que também frequenta a Oficina,
quando conversávamos sobre esse processo que se chama Escrita. Parece que ela
se assustou com essas ideias e de repente falou Mas assim eu vou me revelar!
Foi aquele silêncio, todos pegos de surpresa, de início ninguém entendeu muito
bem o significado daquelas palavras, O que seria “revelar-se”.
Mas é isso mesmo que acontece quando a gente escreve, Dr. Alberto.
Muitas vezes nos revelamos a nós mesmos! Se a gente guarda um escrito na gaveta
e o lê tempos depois, pode acontecer da gente se perguntar Foi eu mesma quem
escreveu isso? Estava em mim e eu não sabia. Uma revelação!
(Ninguém soube o porquê, mas depois daquela descoberta, a tal moça não
voltou mais à Oficina. Fiquei pensando, Do que será que ela tinha tanto medo? O
que havia dentro dela que jamais poderia ser revelado? Posso perguntar, Que
crime ela havia cometido? Tem muita gente assim no mundo, Dr. Alberto,
carregando o sofrimento de crimes que pensa ter cometido. Acho que o nome disso
é CULPA, o Sr. o que pensa? Um moço também lá da Oficina, psicanalista e muito
bonito, escreveu que culpa tem a ver com o Complexo de Édipo e outros
sentimentos enraizados em nosso Inconsciente, mas eu não entendo nada disso,
Dr. Alberto, me desculpe. Mas vou estudar sobre o assunto, prometo.)
Tenho aprendido muito nessa vida, lendo, escrevendo e cortando cabelo
de homem. O Sr. sabe que a gente aprende muito ao escrever? Começo a escrever
uma história, não faço ideia de onde ela vai parar, nem desconfio do final, vou
escrevendo, escrevendo, e de repente a história toma um certo rumo que não
depende da minha vontade, o Sr. acredita? Aí eu aprendo comigo mesmo, porque as
ideias só podem ter vindo da minha pobre cachola, o Sr. desculpe a palavra
tola, mas comigo é assim, acho que é o resultado de tudo que vivi e li e
escrevi até agora, uma salada mista.
Se o Sr. tiver paciência comigo, vou continuar aprendendo em sua
Oficina e, quem sabe, um dia viro escritora.
Com admiração e amizade, da sua aluna
Suzete.
Essa Suzete é uma figurinha...
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