terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Carta ao Dr. Alberto, junho de 2009.


A Carta ao Dr. Alberto,
Brasília, junho de 2009.

Prezado Dr. Alberto,

tomo a liberdade de lhe escrever, primeiro para agradecer a acolhida em sua Oficina de Escrita, o Sr. não faz ideia de quanto isso tem sido importante para mim, ainda me sinto intimidada diante dos outros participantes, mas acho que, com o tempo, vou ganhando confiança, espero, e aprendo a escrever melhor, com sua prestimosa ajuda, é claro. O segundo motivo desta carta é justamente a ESCRITA.
            Tenho algumas ideias sobre o assunto e gostaria de reparti-las com o Sr., mas surge sempre um pensamento automático que se intromete por entre outros pensamentos meus, o de que uma reles cabeleireira não deve estar a falar destas coisas... Ao vencer esta barreira, então posso pensar melhor sobre o que tenho a dizer. Será que isso também acontece com outras pessoas, independentemente da profissão e da importância delas?
O que tenho a dizer começa pela ideia de que é de tanto ler que surge a vontade de escrever. Quando a gente lê, nossa cabeça se enche de ideias dos outros, de quem escreveu aquilo que lemos, e estas ideias vão se acumulando, vão se misturando umas às outras em nossa mente, até que, a partir daí, começam a brotar nossas próprias ideias. E são essas que aparecem quando a gente pega papel, lápis e borracha e começa a escrever. É por isso que ouvi na Oficina que é preciso ler para escrever. Concordo, Dr. Alberto.
Fiquei pensando no que disse uma moça que também frequenta a Oficina, quando conversávamos sobre esse processo que se chama Escrita. Parece que ela se assustou com essas ideias e de repente falou Mas assim eu vou me revelar! Foi aquele silêncio, todos pegos de surpresa, de início ninguém entendeu muito bem o significado daquelas palavras, O que seria “revelar-se”.
Mas é isso mesmo que acontece quando a gente escreve, Dr. Alberto. Muitas vezes nos revelamos a nós mesmos! Se a gente guarda um escrito na gaveta e o lê tempos depois, pode acontecer da gente se perguntar Foi eu mesma quem escreveu isso? Estava em mim e eu não sabia. Uma revelação!
(Ninguém soube o porquê, mas depois daquela descoberta, a tal moça não voltou mais à Oficina. Fiquei pensando, Do que será que ela tinha tanto medo? O que havia dentro dela que jamais poderia ser revelado? Posso perguntar, Que crime ela havia cometido? Tem muita gente assim no mundo, Dr. Alberto, carregando o sofrimento de crimes que pensa ter cometido. Acho que o nome disso é CULPA, o Sr. o que pensa? Um moço também lá da Oficina, psicanalista e muito bonito, escreveu que culpa tem a ver com o Complexo de Édipo e outros sentimentos enraizados em nosso Inconsciente, mas eu não entendo nada disso, Dr. Alberto, me desculpe. Mas vou estudar sobre o assunto, prometo.)
Tenho aprendido muito nessa vida, lendo, escrevendo e cortando cabelo de homem. O Sr. sabe que a gente aprende muito ao escrever? Começo a escrever uma história, não faço ideia de onde ela vai parar, nem desconfio do final, vou escrevendo, escrevendo, e de repente a história toma um certo rumo que não depende da minha vontade, o Sr. acredita? Aí eu aprendo comigo mesmo, porque as ideias só podem ter vindo da minha pobre cachola, o Sr. desculpe a palavra tola, mas comigo é assim, acho que é o resultado de tudo que vivi e li e escrevi até agora, uma salada mista.
Se o Sr. tiver paciência comigo, vou continuar aprendendo em sua Oficina e, quem sabe, um dia viro escritora.
Com admiração e amizade, da sua aluna
                                                                        Suzete.

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