ana sabiamente
diz que
“é sempre
mais difícil
ancorar um
navio no espaço”
no poema intitulado
“recuperação
da adolescência”
com a
chegada da velhice
é possível
sentir o poema
de um outro
modo
o
desfazimento do corpo
o lóbulo da
orelha esquerda
ameaça
desprender-se da face
o coração
titubeia
com os
entupimentos
a memória se
esvai
água de torneira
escancarada
os músculos
cansados
uma certa
falta de ar
os olhos
baços
corpo
evanescente
com isso
surge a leveza
as coisas já
não têm importância
tempo de
doar os livros
doar as
roupas
nada de
pedidos ou exigências
o tempo não
importa mais
ler somente
livros pequenos
conversar
mais com os cães
escrever quando
dá vontade
sem
perguntar por quê
nem para
quem
algo a ver
com imortalidade?
talvez
talvez talvez
agora é
tempo de dúvida
nada é certo
nada é
eterno
nada é
confiável
nem mesmo o
amor?
muito menos
o amor
que nunca
foi eterno
muito menos
confiável
com o
desfazimento lento
inexorável
do corpo
o que resta?
o Nada
seu grito
silencioso
e por isso
tão leve
que torna
bem mais fácil
ancorar o
navio no espaço
nem mesmo o amor?
ResponderExcluirmuito menos o amor
que nunca foi eterno
muito menos confiável
Parece que você gostou destes versos, Tatyana... Mas se você é jovem, não acredite neles.
ExcluirResta ainda o Poema. E o seu é lindo de fazer chorarem os ossos, André!
ResponderExcluirFeliz Natal!
Sempre há de restar a poesia, não é mesmo, Nazaré!
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