O que poderá unir uma pequena cidade soterrada no Peru, o Rio Xingu com sua Usina de Belo Monte, e os migrantes que vivem na gigante São Paulo? Pois no Prólogo, Maria José Silveira, autora de Maria Altamira (Editora Instante, 2020), adverte com sabedoria: “Uma história começa em qualquer lugar e em qualquer momento.”
Maria Altamira relata a trajetória de mãe e filha por caminhos distintos, em meio à miséria, injustiça, violência, agravadas pela devastação ambiental ocorrida pela construção da Usina de Belo Monte, no Xingu.
Alelí, sozinha no mundo, sem rumo, carrega um instrumento de cordas construído com a carapaça de tatu e um canivete, que serve dentre outras coisas para lhe autoinfligir dor, com objetivo de aplacar dor maior. Acolhida por uma boa alma na cidade de Altamira, alí dá à luz a uma menina que recebe o bonito nome de Maria Altamira. Alelí abandona a filha e torna a sumir no mundo.
Maria Altamira tem sangue índio, retorna às suas origens, briga por sua gente, depois de uma temporada em São Paulo, para conhecer a vida junto a outros sem-teto. A partir daí a história gira em torno da indignação causada nos moradores locais pelas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, ameaça de destruição das comunidades ribeirinhas e indígenas do Xingu, os maiores desvalidos.
Maria José Silveira, goiana de nascimento, é escritora, editora, tradutora, formada em Comunicação pela Universidade de Brasília, e Antropologia pela Universidad Mayor de San Marcos, Lima, Peru, além de mestre em Ciências Políticas pela USP. Seu primeiro romance, A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas, de 2002, recebeu o Prêmio Revelação da APCA. Maria Altamira é seu sétimo romance.
A escrita de Silveira, se não é empolgante, é correta, tem estilo próprio, alterna a forma tradicional com o falar regionalista do Norte. A importância maior do Romance, em meu ponto de vista, reside na denúncia da devastação ambiental sob pretexto de desenvolvimento do país. E, naturalmente, no sofrimento que acarreta ao ser humano.
A capa do livro, sofisticadíssima, tanto na composição do desenho quanto na escolha do papel, é de autoria de Fabiana Yoshikawa e Renato Hofer.
Guardo as melhores lembranças da quinzena que passei às margens do Xingu, em companhia de meu amigo Sergio Pripas. Foi lá que experimentei pela primeira vez a terrível sensação de fome, por falta de comida mesmo! Este mesmo problema assola nosso país nos dias atuais, para tristeza dos homens de bem.
Um bom livro, Maria Altamira.
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