Não raro, aqueles que pretendem escrever e publicar começam por um volume de contos. Parece mais fácil, as histórias são mais curtas, talvez não haja necessidade de tanta engenhosidade criativa. Parece, mas não é bem assim.
Atribui-se ao argentino Julio Cortázar a frase que compara o romance ao conto, segundo as regras do boxe: “o romance é uma luta que se vence por pontos e o conto, por nocaute”. É preciso ser muito bom para vencer por nocaute em literatura!
Há trinta anos Chico Buarque estreava com Estorvo, um belíssimo romance; desde então ele publicou outros seis romances, com os quais ganhou prêmios, incluindo o Camões, em 2019, e três Jabutis. Agora, só agora, aos 77 anos, Chico Buarque, estreia como contista, com Anos de chumbo (Companhia da Letras, 2021). E que estreia!
Logo no primeiro conto – Meu tio – ele tonteia o leitor; no segundo – O passaporte –, é nocaute na certa. Seguem-se Os primos de Campos, Cida, Copacabana, Para Clarice Lispector, com candura, O sítio, e o pequeno volume se encerra com o conto que dá nome ao livro.
Os oitos contos revelam, através de escrita realista, um Brasil duro, perverso, atrasado, sórdido, miserável, repleto de bandidos, assassinos, milicianos poderosos. Em frases curtas, secas, sem rodeios, o autor captura a atenção do leitor, que mergulha em cada história como se estivesse vendo uma reportagem na tevê, só que com a arte da boa literatura.
É possível sentir a influência de um Rubem Fonseca, de Dalton Trevisan, de Sergio Sant’Anna, dentre outros, o que apenas engrandece a forma elegante e personalíssima do já consagrado escritor Chico Buarque.
Em tempo, a edição é bem cuidada, com belíssima capa (dura) de Raul Loureiro.
Sem dúvida, um ótimo livro em minha opinião de simples leitor.
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