quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Do hábito de fotografar

 

Foto: Cecília Vianna (out 2021)

 

Uma mulher acorda com o nascer do sol, olha pela janela, vê a paisagem, observa a atmosfera. Toma da máquina fotográfica, sai ao jardim e registra a névoa da manhã.

            Fotografar é olhar, ver, observar. Ver o real, com olhos de poesia. Só então registrar aquilo que observou.

            Fotografar é registrar o presente. O hábito de fotografar – como o da mulher que acorda e congela o instante –, traz o sujeito para a vida presente, a única que pode ser verdadeiramente vivida. Impossível fotografar (ou viver) o passado, embora a fotografia possa representar sua memória; impossível fotografar (ou viver) o futuro. 

            Em fotografia, ver o real com olhos de poesia recebe o nome de enquadramento. Enquadrar resume a arte da fotografia. Enquadrar é limpar o terreno baldio, remover o entulho, encontrar a pérola despercebida. 

Com a imagem, ficará registrado o sentimento de quem a fotografou, como por exemplo, a saudade.

            Ao revelar sua obra o fotógrafo ouvirá, Ficou mais bonito que o original! O original é o que é, nem bonito nem feio, como a natureza. O original é atemporal. Daí que o artista busca quase sempre [enquadrar] a presença da figura humana, que dá à paisagem a condição do tempo presente. No futuro, ao rever a fotografia, a figura humana ainda haverá de ocupar a posição central para quem a observa.

            O fotógrafo observa, enquadra, respira profundamente, expira lentamente e só então dispara; para ele, esta é a definição do instante presente. É o que vale a pena ser vivido.

            

Um comentário:

  1. Fiquei muito feliz com a publicação da foto aqui no ilustre Louco. O momento me tocou bastante realmente. Estava já de saída para o trabalho, quando ao sair de casa, me deparei com tamanha beleza. Uma cena linda e intrigante, como é sempre uma paisagem de neblina. A neblina tem algo que atrai.
    Da belíssima visão se produziu um olhar fotográfico e deste esse profundo texto literário, que retorna à cena inicial e ajuda a mulher a compreender melhor os sentimentos gerados pela densa neblina matinal.

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