4/5/13
“Sempre e de novo a imagem de uma larga faca de açougueiro que, a toda a pressa e com regularidade mecânica, penetra-me pelo lado e arranca fatias muito finas, as quais, dada a rapidez do trabalho, voam quase enroladas para longe.”
Franz Kafka - Diários
Ed. Todavia, 2021, p 294.
O que talvez haja de mais perturbador nos escritos de Kafka são os detalhes que ele acrescenta em suas histórias.
A faca é de açougueiro.
Ela penetra pelo lado.
A faca trabalha com regularidade mecânica.
As fatias arrancadas são muito finas.
As fatias voam para longe “quase enroladas”.
Esse pequeno texto dos Diários me fez lembrar a espantosa novela de Kafka intitulada Na colônia penal, na magnífica tradução de Modesto Carone (Companhia das Letras, 1998). (Há quem afirme que se trate do prenúncio do Holocausto.) Assim tem início o relato:
“– É um aparelho singular – disse o oficial ao explorador, percorrendo com um olhar até certo ponto de admiração o aparelho que ele no entanto conhecia bem.”
Agora, o oficial, embora conheça bem o aparelho, olha-o com admiração, “até certo ponto”.
Existe a Literatura antes e depois de Franz Kafka.
O homem parece examinar detalhadamente os próprios pensamentos.
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