sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Estúdio de Matisse em Collioure


 

 

Estúdio de Matisse em Collioure, obra de Henri Matisse pintada na pequena cidade da costa mediterrânea da França, em 1905, vale a pena ser observada com cuidado e tempo, tantas são as informações nela contidas.

            Logo ao primeiro olhar distinguimos dois ambientes, o interior e o externo. Como o próprio título do quadro indica, trata-se do estúdio do artista; destacam-se na parede lateral à esquerda de quem olha, duas telas, em frente uma escultura sobre alto tripé a representar um casal, a face posterior de outra tela mais inferiormente (estará pintada?), e por fim, no chão, pequena vasilha com água. A parede está coberta de cores fortes, puras, primárias e secundárias: vermelho, verde, amarelo, azul, violeta, uma das principais características do fauvismo, movimento encabeçado por Matisse a partir de 1905. O mesmo ocorre com a parede à direita, onde estão dependuradas duas telas e logo abaixo uma espécie de móvel; o tampo azul contém pratos e vasos, o maior deles com flores que parecem fazer parte da tela acima; numa espécie de prateleira está a palheta do pintor sobre um livro (?) ou caixa de guardar tintas (?); rente ao chão, vaso com pincéis e outra tela. No canto inferior direito do quadro vemos parte de uma cadeira, com pequena caixa contendo material de pintura (?) sobre o acento de palhinha. O chão, em frente à porta, sobre um tapete repousa mesinha com vasos e plantas em florescimento. No piso predomina o vermelho vivo e o azul escuro.

            As duas folhas abertas da porta-janela ainda fazem parte do interior, porém já começam a revelar o que está fora: mostram o reflexo de céu, das palmeiras, do chão cor de areia, das construções na cidade. As partes mais inferiores de ambas as folhas deixam transparecer apenas as cores das paredes. Matisse não desperdiça espaço: procura captar o real em sua totalidade.

            A varanda, contendo dois vasos de plantas e delimitada por delicada grade, é espaço de transição entre o interno e a paisagem exterior.

            A partir daí, a cidade, o verde-mar, pequenos barcos espalhados pela areia (?), à esquerda pequena árvore sob a qual há mesas e cadeiras, será mesmo um navio o que se vê ao fundo?, o céu violeta, o reflexo nas nuvens da luz solar. A pintura é luminosa, fora e no interior do estúdio.

            A janela aberta tornou-se tema recorrente na obra de Matisse.

 

            Em tempos de pandemia, passo as manhãs em frente a uma janela – a tela de meu computador –, onde mantenho contato como o mundo exterior. Este mundo não é tão belo quanto aquele representado por Matisse; nele há fome, doença, morte, corrupção, desentendimento, muito ódio e pouco amor. A Arte me ajuda a suportá-lo.

 

2 comentários:

  1. Que explosão de cores! Concordo coma quantidade de informações reais ( objetos, vasos , quadros , mar, horizonte ) pintadas ou refletidas. Estonteante.

    Sergio Pripas

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  2. Lindo quadro, belíssima descrição. Só um gênio para harmonizar cores tão vivas. A arte salva e saliva. 1905, e os quarenta anos que se seguiram, também não foram fáceis...

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