Para os que amam as palavras, eis um fragmento de Escravidão, de Laurentino Gomes, que não me canso de elogiar:
“Provavelmente nenhum outro aspecto da civilização brasileira foi tão afetado pela presença africana quanto a própria língua portuguesa. Em um dos trechos mais inspirados do seu Casa-grande & senzala, ao tratar da africanização dos hábitos e costumes do Brasil colonial, incluindo o próprio idioma, o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre perguntava:
Que brasileiro, pelo menos do Norte, sente algum exotismo em palavras como caçamba, canga, dengo, cafuné, lubambo, mulambo, caçula, quitute, mandinga, moleque, camundongo, moganga, cafajeste, quibebe, quengo, batuque, banzo, mucambo, banguê, bozô, mocotó, bunda, zumbi, vatapá, caruru, banzé, jiló, mucama, quindim, catinga, munguzá, malungo, berimbau, tanga, cachimbo, candomblé? [...] São palavras que correspondem melhor que as portuguesas às nossas experiências, ao nosso paladar, aos nossos sentidos, às nossas emoções.”
In Escravidão, volume II
Laurentino Gomes,
Globo Livros, 2021, p. 258.
A língua faz parte da vida.
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