sexta-feira, 30 de julho de 2021

Claudia Costin leu Escravidão

 

Mais uma voz se levanta contra a destruição de estátuas: Claudia Costin, Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial. Na Folha de S. Paulo de hoje (29.jul.2021). 

Escreve a educadora: “Em uma obra menos conhecida de Ievtuchenko, "Não Morra Antes de Morrer", o poeta russo relata uma cena ocorrida em seu país, em que uma turba entusiasmada com o fim do império soviético passa a derrubar estátuas de líderes anteriormente admirados, até que decide derrubar as de escritores consagrados, como Púchkin. A cena descrita é forte e nos faz pensar em quanto de ressentimento descontrolado estaria presente no momento em que, a um poeta da primeira metade do século 19, pôde ser imputada a culpa coletiva de ter sido derrubada, em 1917, uma autocracia para colocar outra no lugar. Lembrei-me da cena ao ler sobre o ataque à estátua de Borba Gato.”

Costin justifica seu ponto de vista: “Algo que me chama a atenção nesse linchamento de personagens históricos é o fato de que isso acontece desconsiderando o espírito de época em que viveram, dentro do grupo social em que estavam inseridos. (O grifo é meu.) Assemelha-se, em certo sentido, a críticas a Monteiro Lobato, todas pertinentes, afinal seus textos são claramente racistas, mas que tentavam vetar suas obras para leitura infantil. No fim, chegou-se à conclusão de que professores podem, certamente, trabalhar com as crianças esses livros e usar suas falhas para com elas discutir as questões éticas subjacentes.

Grifo essas palavras porque apresentei a mesma argumentação em postagem anterior: “Penso que, através da educação, mãe de todas as coisas, todos ficarão sabendo que Borba Gato existiu e que não foi flor que se cheire! Basta ler Escravidão, de Laurentino Gomes (Globo Livros). Esquecê-lo, jamais!

...De fato, Borba Gato exemplifica bem a violenta colonização sofrida pelo Brasil, e por isso sua memória deve ser preservada: em vez de enaltecê-lo, a História deve ser reescrita e apresentada às crianças logo no ensino fundamental. Falsos heróis merecem ser desmascarados para que nunca sirvam de exemplo.”

https://loucoporcachorros.blogspot.com/2021/07/borba-gato-incendiado-2.html

            Outro ponto de identificação para com Claudia Costin se verifica quando ela cita o segundo volume de Escravidão, de Laurentino Gomes: [Então] “pude ter, mais uma vez, a dimensão clara do que Borba Gato significou na história do Brasil. Sim, ele nos levou a conhecer o Brasil "profundo", ainda inexplorado pelo colonizador. No caminho, porém, escravizou índios, levou negros escravos, estuprou mulheres, matou quem a ele se opôs. E, em 1962, uma estátua dele, criada por Júlio Guerra, foi instalada no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, como uma homenagem não merecida aos nossos olhos de hoje. Borba Gato evidentemente não se compara a Púchkin ou a Lobato. Faz sentido então queimar a estátua? Não creio. Preferia uma destinação melhor a ser debatida com a população: colocá-la num museu onde se pudesse ensinar às crianças o real significado das entradas e bandeiras. Como fizeram, aliás, outros países com seus heróis destronados.”

            Há que se considerar esta última proposta de Costin. Derrubar, não!

 

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudia-costin/2021/07/estatuas-e-historia.shtml

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