terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Terroir existe?

 

Solo, microclima, variedade da uva e ação do homem interferem 
na qualidade e personalidade dos vinhos. 
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

 


A coluna Le Vin Filosofia, de Suzana Barelli, para o Estadão (9 fev 2021) traz o interessante título Terroir existe? 

A palavra terroir (sem tradução para o português), significa “o conjunto do solo, do microclima, da variedade plantada e da ação do homem em um vinhedo”. Um bom terroir produz vinhos de qualidade, característicos da pequena região onde suas uvas são cultivadas.

Afirma Barelli: “Os monges cistercienses foram os pioneiros no terroir na Borgonha, região que atualmente utiliza o termo climat, ainda mais preciso. Durante a Idade Média, por séculos, os monges observaram e anotaram o comportamento de cada variedade cultivada em cada parcela de vinhedo. Conseguiram definir que a chardonnay, nas brancas, e a pinot noir, nas tintas, eram as variedades para o solo e o microclima da Borgonha. Mais que isso: perceberam que conforme o local em que era cultivada, resultava em vinhos diferentes, mesmo se vinificado da mesma maneira. A explicação estava no terroir.”

Pesquisa efetuada pela Catena Institute of Wine, da vinícola argentina do mesmo nome, conseguiu comprovar, oito séculos depois, que o terroir realmente existe e pode ser identificado. “O trabalho “Perfil sensorial e fenólico dos vinhos malbec de distintos terroir de Mendoza, Argentina”, publicado na Scientific Reports, da Nature, criou um modelo para medir o terroir, a partir da analise química de vinhos e que permitiu identificar de que parcela (ou terroir) vem cada um deles.”

“Ao todo foram comparadas três safras, as de 2016, 2017 e 2018, em um total de 201 vinhos, todos malbecs vinificados da mesma maneira e vindos de quatro níveis diferentes de terroir, dos maiores, como as regiões e os departamentos de Mendoza, aos menores, com foco em 23 parcelas, cada uma com menos de um hectare.”

“O modelo aplicado para estas pequenas parcelas nos permite identificar corretamente o vinho que vem de cada uma delas, com uma porcentagem entre 83% e 100% de confiança. Isso é fantástico e nos permite confirmar que o que chamamos de terroir existe”, afirma Fernando Buscema, um dos autores do estudo.

A descoberta é importante para o consumidor porque permite comprovar a origem do vinho, além de combater fraudes. 

Conclui Buscema: “A ciência pode conviver com a arte de fazer vinho. É compartilhar os segredos do artista, que elabora o vinho, para que mais produtores tenham a possibilidade de produzir grandes vinhos por séculos”. Tudo em nome do terroir.

Quem aprecia um bom vinho há de gostar desta descoberta.

 

 

https://paladar.estadao.com.br/noticias/bebida,terroir-existe,70003609510

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