Aquilo que senti não foi outra coisa senão vergonha ao ouvir Antonio Candido dizer em alto e bom som que havia lido S. Bernardo no mínimo vinte vezes e eu não tinha passado de uma única superficial leitura recém saído da adolescência. Que vergonha!
Encomendei nova edição, a 105a !!!, da Editora Record (2020), com bela capa de Renan Araujo; devorei o livro em três ou quatro dias e não me lembro de ter encontrado tamanha força em texto algum como em S. Bernardo, exceto em trechos de Guimarães Rosa. Escrita seca, dura, frases curtas, frases rudes, sentimentos rudes, sobra rudeza na terra, nas gentes, no geral.
Trata-se do segundo romance de Graciliano Ramos (o primeiro foi Caetés), publicado em 1934, considerado por muitos críticos a obra mais importante do movimento modernista brasileiro.
O cunho político ideológico se revela nas primeiras linhas, na curiosa “divisão de tarefas” para se compor um livro. Graciliano desejava mesmo a transformação da estrutura social vigente nos anos 30. A despeito disso, a caracterização psicológica do personagem principal beira a perfeição, esmiuçada a ponto de sugerir descrição psiquiátrica de caso.
Reconheço a inutilidade desse meu texto diante da monumentalidade da obra; faço esse registro apenas como possível estímulo a quem ainda não leu S. Bernardo, ou àqueles que o leram faz tempo e que poderiam relê-lo agora. Antonio Candido tinha razão: um livro para se ler no mínimo vinte vezes!
Vou ver se releio ainda nesta "encadernação"!
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