quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Phantom thread



 O homem que surge desde a primeira cena impressiona, domina, fascina, catalisa todas as atenções, parece um magnetizador capaz de fazer o mundo girar em torno de si mesmo. Estilista poderoso – veste a Casa Real Britânica –, vive exclusivamente para a profissão: criar vestidos. 
             Ele traz no forro de seu casaco um feixe de cabelos de sua falecida mãe, “para que ela esteja sempre ao meu lado”. E costura costura costura, meticulosamente, sob a vigilância constante da irmã e da mãe morta, que chega a se materializar algumas vezes, nas alucinações do costureiro, um dos fantasmas. 
             (Nunca imaginei que pudesse assistir um filme de um homem que só faz costurar vestidos.)
             Até que surge Alma, garçonete que impressiona desde o primeiro instante, pela capacidade de satisfazer o pedido do estilista, um sofisticado café da manhã. Ela se torna a partir de então, modelo, musa inspiradora, amante, e por fim, esposa.
            As relações entre esses três personagens movem o filme: o trabalho como tema central, obsessão vivida com rigidez, aspereza, crueldade mesmo, tudo menos amor. Os vestidos valem bem mais que as mulheres que os usam. Tudo são coisas.
            Apenas Alma resiste; nem sempre concorda com o homem; desobedece mesmo, rebela-se; deseja ser amada, mas talvez não saiba o que é o amor.
            Em resumo, o filme é belíssimo (nunca imaginei...), os atores excelentes, com destaque, é claro, para Daniel Day-Lewis (o estilista Reynolds Woodcock); o trabalho do diretor, Paul Thomas Anderson, é espetacular; ótima fotografia; incrível trilha sonora. O título em português, Trama Fantasma, deturpa o sentido do filme. 
            Um grande filme. (Nunca imaginei...)




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