terça-feira, 17 de março de 2020

Matar o tempo


Há dias ouvi num programa de rádio, em emissora conceituada, que diante da necessária reclusão social causada pelo coronavírus, e da perspectiva de passar em casa o fim-de-semana e também a semana seguinte inteira, e depois a outra, o caro ouvinte tinha duas opções. 
            A primeira seria maratonar. Nem aspas preciso utilizar ao escrever esta palavra, pois ela já está registrada no Dicionário inFormal: (https://www.dicionarioinformal.com.br)

Maratonar:
1. Assistir a um seriado, ler um livro ou consumir qualquer produto de entretenimento de forma ininterrupta, frenética e incessante, com bastante interesse e empolgação, consumindo inteiramente ou parcialmente em um curto período de tempo.

2. Assistir a uma série sem parar.

            Eis um belo exemplo de criatividade que a língua propicia a nós, falantes! É pegar uma série de 8 capítulos por temporada com duração de 1 hora cada e assistir as 10 temporadas em um único fim-de-semana. Isso é maratonar.
            A segunda opção recomendada pela locutora seria providenciar jogos de tabuleiro. Fiquei espantado com a sugestão! Jogar xadrez, damas, banco imobiliário, palavras cruzadas, gamão, parece voltar no tempo! Logo pensei: não serve para mim: minha mulher não joga nada pois não tolera perder. E ficou nisso o aconselhamento da rádio.
            Fiquei esperando a terceira opção, que não veio. Por que não pegar um bom livro para ler? Até o Dicionário inFormal registra “ler um livro” como possibilidade de maratonar. Já não tenho idade para tanto, mas estou enfrentando as 715 páginas de As irmãs Makioka, de Jun’ichiro Tanizaki. Uma delícia! De forma frenética e com empolgação, como recomenda o dicionário, já tracei 240 páginas.
            A quarta opção estou cansado de recomendar: ESCREVER! É divertido, acalma o espírito, ordena os pensamentos, ocupa a mente de forma saudável e criativa. E mais, a presença constante do leitor virtual não é contagiante! 
            Se você é daqueles que diz não ter assunto, então escreva uma carta ao seu melhor amigo, pergunte por ele, como vai de saúde, de dinheiro, de casamento, fale de você, se está bem de saúde, de dinheiro, de casamento, assunto é que não há de faltar. Se o amigo responde, está estabelecia uma correspondência, coisa raríssima hoje em dia, porém preciosa para aqueles que a cultivam.
            E não é que escrevi uma crônica sobre como matar o tempo! Sofrível, mas que importa? Alguém pode até se divertir com ela.

Um comentário:

  1. A pandemia não deixa de provocar o desafio de conviver bem consigo mesmo e com os mais próximos. Faltou acrescentar: e conversar uma boa conversa em torno do que se maratonou, ou leu, ou escreveu...

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