quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O hino


Hélio Schwartsman, articulista da Folha de S. Paulo, por quem não escondo minha admiração, publicou ontem (27.fev.2019) artigo sob o título Eu me orgulho de não saber o hino.
            Ele justifica este ponto de vista: “Cresci nos anos 70. Uma das escolas que frequentei obrigava a garotada a hastear a bandeira e entoar o hino diariamente. Meus pais, quando souberam disso, fizeram questão de me dizer que o governo militar era uma porcaria, mas acrescentaram que eu não deveria repetir isso na escola.” 
            Daí a “sentir orgulho” por não saber o hino, vai uma diferença muito grande. Também eu não sei cantar o hino, mas não me orgulho por isso. A letra é complicadíssima, cheia de palavras rebuscadas, pernósticas, em completo desuso, verdadeira perda de tempo. Já a música é belíssima, um dos hinos mais bonitos do mundo.
            Tudo isso tem pouca importância. Volto à crônica do Schwartsman, para tratar do que realmente importa:

“O nacionalismo é um negócio complicado. Em doses baixas, é um elemento valioso para dar a grupos populacionais cultural e economicamente heterogêneos um senso de comunidade, o que facilita a cooperação. Em doses altas, porém, ele se torna um produto tóxico.
Ambição, sadismo e excesso de autoestima explicam a grande maioria dos atos de violência no planeta. Mas, para chegar aos grandes massacres da história, é necessário introduzir um quarto ingrediente, a ideologia, que costuma aparecer como nacionalismo ou religião.”

            Eis o que sempre faz a diferença, e para pior: a ideologia.


Um comentário:

  1. Perfeito: nacionalismo (patriotismo?) do tipo "beba com moderação". Amor à pátria parece natural, desde que não beire o fanatismo, a depreciação da pátria alheia, o primarismo de apego aos símbolos, mais que às pessoas. Mas também não precisa "odiar" o nosso complicado hino. O nosso divertido "Virundum"... ("O virundumpiranga as margens plácidas...")

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