Em seu magnífico livro Em busca de Espinosa – prazer e dor na ciência dos sentimentos, (Companhia das Letras, 2004), o cientista e filósofo António Damásio propõe de forma bastante provocadora que pensemos sobre a pergunta que dá início ao Hamlet: “Quem está aí?”
E Damásio responde, inspirado no Deus de Espinosa:
“Se fizermos à perspectiva espinosiana aquela pergunta inquietante com que começa o Hamlet, “Quem está aí?” –, querendo dizer quem está aí para nos ajudar a persistir, como a nossa tendência de autopreservação nos pede que façamos –, a resposta é inequívoca. Ninguém. Estar sozinho é a realidade crua, de Cristo na cruz e de Espinosa nas almofadas amassadas do seu leito de morte. Mas Espinosa arranja-nos uma maneira de iludir essa realidade, uma ilusão nobre que nos permite continuar.”
E Damásio acrescenta em seguida algo fundamental:
“...a certeza tranquila com que [Espinosa] encara um conflito que a maior parte da humanidade ainda não resolveu: o conflito entre a ideia de que o sofrimento e a morte são fenômenos biológicos naturais, que devemos aceitar com equanimidade – poucos seres humanos bem-educados rejeitarão a sabedoria de tal ideia – e a inclinação, não menos natural da mente humana de se sentir insatisfeita com essa sabedoria. Há uma ferida que persiste, e bem que eu gostaria que assim não fosse, porque prefiro as histórias que acabam bem.”
Em busca de Espinosa começa por tratar de: (1) Entram em cena os sentimentos; depois vem (2) Os apetites e as emoções; volta aos (3) Sentimentos; então prossegue, (4) Depois dos sentimentos; até que chega a (5) Corpo, cérebro e mente; de repente, uma maravilhosa surpresa: (6) Uma visita a Espinosa; e termina com (7) Quem está aí?
A simples disposição dos capítulos do livro sugere fortemente a associação entre Ciência e Filosofia.
Uma obra fundamental. Voltaremos a ela nesse blog.
Elegantíssimo. Vai por certo pelo caminho do ateismo clássico, que não se interessa pelos fenômenos ditos "paranormais". De antemão (o que parece muito anticientífico) considera que tais fenômenos sejam pura fantasia e ilusão. No entanto, para ficar na citação do mesmo autor, "Há mais coisas no céu e na terra, Horácio,..."
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