Luiz Ruffato, autor do
monumental Inferno Provisório – “a
pentalogia dos anos 2000, um panorama literário sem igual da classe
trabalhadora brasileira”, (reeditado pela Companhia das Letras, 2016), lança agora
A
Cidade Dorme, seu primeiro livro de contos (também pela Companhia das
Letras).
São
vinte textos escritos ao longo dos últimos 15 anos, publicados em revistas,
sites diversos, contendo os temas preferidos do mineiro de Cataguases, as
relações familiares e sociais do brasileiro pobre ou remediado.
O
estilo de Ruffato vai da escrita comportada de 15 anos atrás, ligada à infância
interiorana, até escrita inventiva, originalíssima, ousada, presente, por
exemplo, no conto que dá nome ao livro, A
cidade dorme. Reproduzo aqui o primeiro parágrafo do conto:
“Xuxa
despertou, golpes de cassetete na cabeça no tronco nos membros, assustado o
grupo espalhou-se sacos de aniagem pendurados nos ombros Ai ai caralho! Que
isso porra?! O Zé imaginou interpor-se ao peeme, latiu preventivo, um coturno
arremessou-o contra as grades do parque “
Bem diferente do primeiro parágrafo
do conto que abre o livro, Minha vida:
“Agora
tem um ano que mudamos para a nossa casa no Paraíso. Ela não está pronta ainda.
Falta emboçar as paredes de fora e pintar as de dentro, mas, orgulhoso, meu pai
fala que pelo menos não precisamos mais ter medo de ficar sem dinheiro no fim
do mês para pagar o aluguel.”
Interessante observar tais mudanças
de estilo; mais interessante ainda é constatar a progressiva liberdade do autor
para infringir “regras” de escrita. (Algum crítico pedante haverá de dizer que o livro é irregular...)
Não posso deixar de dar destaque à
capa do livro, belíssima espetacular sensacional, de autoria de Kiko Farcas e
Felipe Sabatini, inspirada em foto de Cristiano Mascaro.
O livro é bom, mas deve ser difícil
escrever algo muito bom! depois do Inferno provisório.
O louco continua especialista em suscitar leituras. Como acompanhar sua voracidade leitora?
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