quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O troglodita interno



A crônica de hoje de Leandro Karnal para O Estado de S. Paulo (1 Ago 2018), intitulada O deus das pequenas coisas, ressalta que além da grande ética, existe uma pequena ética, a etiqueta.
             Afirma Karnal: “O centro da etiqueta é fazer com que meu comportamento exista em harmonia com os outros, sem perturbar, invadir, desagradar ou agredir pessoas de forma intencional.” ...”o primeiro passo é multiplicar expressões que me desloquem do centro do universo. Com palavras e gestos, devo indicar que faço parte de um todo maior e que existo, mas não vivo isolado. Assim, “por favor”, “com licença”, “muito obrigado” e o coloquial “me desculpe” indicam que desejo me harmonizar com outras pessoas, respeitar suas existências.” ...“Ser gentil desarma cenhos e punhos. A gentileza é o deus das pequenas coisas, o antídoto ao Neandertal permanente que nos acompanha no trânsito, à mesa e no leito.”
            E o cronista encerra seu texto com surpreendente sinceridade:

“De tudo o que já escrevi na minha vida, o texto de hoje é o que mais eu preciso ler, reler, refletir e tentar seguir o que recomendo aos outros. Meu troglodita interno é vivo, forte e altivo. Sob a pátina de civilizado há em mim um homem primitivo e tosco.É uma luta. Sou derrotado com frequência, todavia tento, tento e tento novamente.”

(O grifo é meu.) Trata-se de uma reflexão fundamental que todos nós devemos fazer: o homem primitivo, tosco, bruto, verdadeiro troglodita, que habita em nós, e com quem temos que conviver em todos os instantes de nossa vida cotidiana. 
Karnal sugere que nos utilizemos da etiqueta, a pequena ética, na luta (inglória) contra este ser primitivo, este Neandertal entranhado em nós. 
Trata-se de luta para uma vida inteira.




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