quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Blanchot e a questão da arte



A questão da arte

“Em que consiste a arte, em que consiste a literatura? A arte é para nós, então, coisa do passado? Mas por que essa pergunta? Ao que parece, teria sido outrora a linguagem dos deuses, que os deuses, tendo-se evadido, deixaram no mundo como linguagem que fala da ausência dos deuses, da falta deles, da indecisão que ainda não resolveu o destino deles. Fazendo-se a ausência mais profunda, tendo-se tornado ausência e esquecimento de si mesma, parece que a arte procura tornar-se a sua própria presença mas, em primeiro lugar, oferecendo ao homem o meio de se reconhecer, de se satisfazer a si mesmo. Nesse estágio, a arte é o que se chama humanista. Ela oscila entre a modéstia de suas realizações úteis (a literatura torna-se cada vez mais prosa eficaz e interessante) e o inútil orgulho de ser essência pura, o que se traduz mais frequentemente pelo triunfo dos estados subjetivos: a arte torna-se um estado de alma, é “crítica da vida”, é a paixão inútil. Poético quer dizer subjetivo. A arte assume a figura do artista, o artista recebe a figura do homem no que este tem de mais geral. A arte exprime-se na medida em que o artista representao homem que ele não é somente como artista.”

                  Maurice Blanchot
                  O espaço literário
                  Ed. Rocco, 2011.

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