quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A menina Denny



Richard Roberts, Vladimir Ulianov e Maxim Kozlikin na gruta de Denisova,
onde foram achados os restos da jovem híbrida
Foto: IAET SB RAS, SERGEI ZELENSKY



A manchete do artigo de Daniel Mediavilla para El País de ontem 
(22 ago 2018)é espetacular:Achada a primeira filha fruto do sexo entre duas espécies humanas diferentes.
            Diz a reportagem: “Há mais de 50.000 anos, uma mulher neandertal e um homem denisovano fizeram sexo e alguns meses depois ela deu à luz uma menina. Muitos séculos mais tarde, numa gruta siberiana junto à cordilheira de Altai, foram encontrados os ossos que deixou aquela menina híbrida, que teria 13 anos ao morrer. Há quase uma década se sabe que os neandertais, denisovanos e humanos modernos tiveram descendência em algumas circunstâncias, mas nunca havia sido encontrado um filho de um casal misto.” 
Os genomas das duas espécies indicam que elas se separaram há mais de 390.000 anos. Entretanto, continuaram procriando em territórios de fronteiras comuns. Ocorreram relações ocasionais entre as espécies do gênero humano que compartilhavam o mundo há dezenas de milhares de anos. “O genoma de Denisova 11, ou Denny, como foi chamada a garota, mostra que a relação de seus progenitores não era o primeiro cruzamento entre espécies da sua família. O pai também tinha neandertais entre seus antepassados.” 
Sabe-se que os humanos modernos fizeram sexo com neandertais há pelo menos 100.000 anos, e hoje todos os habitantes do planeta, salvo os subsaarianos, têm em seu genoma DNA daquela espécie extinta. 
Afirma Mediavilla: “As incógnitas em torno daquela etapa da humanidade, quando os humanos ainda não tinham imposto sua lei e pelo menos três espécies tremendamente inteligentes compartilhavam planeta e fluxos, são abundantes.” 
“No entanto, trabalhos como o publicado nesta quarta são uma amostra de que a ciência pode abrir janelas inesperadas para o passado. Em 2006, o pesquisador Bruce Lahn, da Universidade de Chicago, propôs que neandertais e humanos tinham intercambiado genes há 40.000 anos.” 
Conforme contou então ao El País, as revistas Science Nature recusaram-se a publicar o trabalho porque consideravam que esse cruzamento era impossível. Em apenas uma década, aquela visão sobre o sexo no Pleistoceno e suas consequências ficou de pernas para o ar.”

Reside aí a beleza do chamado Pensamento Científico: a partir de fatos novos, a compreensão da vida se renova, às vezes muda completamente, dá uma cambalhota, para se renovar mais adiante. Embora necessária, é difícil tolerar a incerteza. Daí o aparecimento do Pensamento Religioso (nada contra a Religião), bem mais primitivo, onde as verdades são dogmáticas, imutáveis, baseadas exclusivamente em crenças, sem o amparo dos fatos. 



Um comentário:

  1. Não é de hoje que a mestiçagem é fator positivo para a evolução da humanidade.

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