quinta-feira, 12 de abril de 2018

50 POEMAS DE REVOLTA



Ao meu amigo Sergio Pripas

            Na cotidiana garimpagem pelas prateleiras de Poesia, encontrei hoje o pequeno 50 Poemas de Revolta, da Companhia das Letras, editado em 2017.
Pequeno formato, capa horrorosa – parece que vai explodir –, o livrinho é composto por poemas de 34 autores brasileiros, e informa que a seleção foi feita pelos editores, sem menção a qualquer coordenador em especial. Ele é atualíssimo.
            No alto da página de apresentação está a pergunta: “Toda poesia é política?”
            Em seguida vem a resposta: 

“A poesia é, por si, ato de resistência. Além de não comercial, espécie de antiproduto, antimercado, dirigida a um círculo restrito de leitores, é uma reação à automatização da linguagem, do pensamento e dos sentidos. Quando o poeta lança seus dados em resposta às notícias de jornal, a política aparece não apenas como um dos componentes que definem o gênero poético, mas também como temática do poema. Com profundo desejo de transformação, os versos se rebelam contra as mazelas sociais e conquistam alta voltagem de mobilização. É uma poesia engajada, indignada, insubordinada. 
...São poemas que, em tempos sombrios, procuram jogar luz sobre incontáveis modalidades de negligência e opressão que estão na ordem do dia.”
Assinado, os editores.

            Mais atual, portanto, impossível! Vivemos tempos sombrios, assolados pela corrupção que, sem dúvida, acarreta negligência e opressão. Afirmar que Poesia é Resistênciapode soar risível. Porém, se considerarmos o possível desejo de transformação despertado naquele que lê poesia, então estaremos levando em conta o papel revolucionário da Literatura, em particular da Poesia.
            Uma pequena amostra? Vejamos o poema de Nicolas Behr (1958), natural de Cuiabá e residente em Brasília, pertencente à geração marginal.


Receita

ingredientes

2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles

modo de preparar

dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração

leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças perdidas

corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos
beatles o mesmo processo usado
com os sonhos eróticos, mas desta
vez deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver

parte do sangue pode ser
substituída por suco de
groselha, mas os resultados
não serão os mesmos

sirva o poema simples
ou com ilusões
            
***


doce intenção

é intenção deste blogueiro resistir ao podre noticiário do dia a dia com alguma poesia retirada deste ou de outros livrinhos de poesia            

2 comentários:

  1. Tempos muito sombrios só trazem dúvidas , incertezas. Sinto falta de análises mais profundas. Não sei se quero resistir aos podres noticiários ou preciso deles para entender melhor. Mas certeza tenho de que arte é um ato de resistência. Por isso surge movimentos contemporâneos de resistência na periferia.E são muitos e genuínos.

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  2. Poesia é mais que atuação política, é vital.

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