terça-feira, 20 de março de 2018

Amazônia e Saara: uma rica influência




Nuvens de poeira e de vapor d'água sobre o deserto do Saara
(Foto: Nasa)


Como o deserto do Saara participa do regime de chuvas da Amazônia, a 5 mil km de distância: este o título de matéria interessantíssima publicada por Evanildo da Silveira, para a BBC (19/03/2018).  
Embora muito distantes (5,3 mil km e o Atlântico separam as cidades de Manaus e Nouakchott, capital da Mauritânia), o deserto do norte da África e a floresta amazônica têm uma relação muito estreita, pois o deserto beneficia a mata (e não o contrário, por estranho que pareça):  ele é responsável pela maior parte das chuvas torrenciais que caem sobre a região, mantendo sua exuberância e biodiversidade, além de enviar toneladas de nutrientes para sua vegetação, como o fósforo.
Informa Silveira: “Os "núcleos de condensação" – a parte da nuvem em que o vapor de água se condensa – são formados, entre outros elementos, por partículas em suspensão no ar,  poeira, por exemplo. No caso da floresta amazônica, uma parcela desses aerossóis é proveniente do Saara.”
O fenômeno começa com as tempestades no Saara, que levantam toneladas de poeira e areia, transportados por cima do Oceano Atlântico, até a floresta amazônica, numa distância de 5 mil km. "Isso ocorre de fevereiro a maio, pois, nesta época, a chamada Zona de Convergência Intertropical, ao sul de Manaus, favorecendo o transporte de massas de ar do hemisfério Norte para a Amazônia Central", explica Paulo Artaxo, físico do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Artaxo diz que, “para que haja chuva, são necessários três ingredientes básicos: vapor de água, condições termodinâmicas ideais e as partículas que servirão de meio para que o vapor possa se condensar. Os grãos de poeira do Saara, que também podem ser chamados de aerossóis, operam como uma destas partículas em que o vapor de água se condensa. Atuam como núcleos de condensação de gelo, fazendo com que gotas líquidas, ao atingirem altas altitudes e temperaturas menores que -10 ºC, congelem e formem gotas de gelo, que são eficientes no processo de formação de chuva na Amazônia."


Foto de satélite mostra a onda de poeira se deslocando
a partir da costa do norte da África (Foto: Nasa)


Em 2015, a Nasa, a agência espacial americana, divulgou estudo segundo o qual todos os anos o deserto envia, junto com o pó, 22 mil toneladas de fósforo, nutriente encontrado em fertilizantes comerciais e essencial para o crescimento da floresta. É quase a mesma quantidade que a mata produz, com a decomposição das árvores caídas e, em seguida, perde com as chuvas e inundações.    
Segundo Artaxo, pesquisadores agora estão empenhados em descobrir se o aquecimento global pode interferir no fenômeno do transporte de poeira do Saara para a Amazônia e, consequentemente, na formação e no volume de chuva na região da floresta brasileira.




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