sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Mayombe



Cansei de ver o nome do angolano Pepetela nas estantes de não sei quantas livrarias, sem nunca ter tido a oportunidade de lê-lo. Há mais de ano adquiri o romance de capa bonita, com o título Mayombe, que passou todo esse tempo descansando na estante de minha casa. (Acho que não precisamos ler um livro só porque acabamos de comprá-lo. Ele pode muito bem esperar.)  Agora, devorei-o em dois dias!
Mayombe foi publicado originalmente em 1980, quando da participação de Pepetela na guerra de libertação de Angola. O livro retrata o cotidiano dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em luta contra as tropas colonizadoras portuguesas.
O romance torna-se interessantíssimo ao abordar não somente as ações, mas os sentimentos e reflexões dos guerrilheiros, suas contradições e conflitos, as relações estabelecidas entre pessoas que buscavam construir uma nova Angola,  livre da colonização.
O discurso político de Pepetela não poderia ser mais direto e enfático:

“Os quadros do Movimento estão impregnados de religiosidade, seja católica, seja protestante. E não são só os do Movimento. Pega em qualquer Partido. Há uns que procuram aldrabar o padre e escondem os pecados: é como os militantes que fogem à crítica e nunca a aceitam. Há os outros, os que inventam mesmo pensamentos impuros que afinal nem chegaram a ter, salvo no momento da confissão, para que se sintam mesquinhos em face do sofrimento do Cristo: são os militantes sempre dispostos a autocriticar-se, a reconhecer erros que não cometeram, apenas porque isso lhes dá a impressão de serem bons militantes. Um Partido é uma Capela. E é por isso que achas que os responsáveis devem criticar-se a sós, como o padre e o sacristão, que só na sacristia se acusam de roubarem as amantes respectivas, porque se o fizessem em público os crentes tornar-se-iam céticos.”

Em português do Brasil, um Partido é uma igrejinha, afirmação atualíssima.
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela, nasceu em Benguela, Angola, em 29 de Outubro de 1941. Sua obra refere-se a história contemporânea de Angola e os problemas que a sociedade angolana enfrenta.
Durante o exílio em Argel licenciou-se em Sociologia. Foi guerrilheiro pelo MPLA, político e governante. Desde 1984 que é professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e tem sido dirigente de associações culturais, com destaque para a União dos Escritores Angolanos.
Recebeu o Prêmio Camões em 1997, o que confirmou seu lugar de destaque na literatura de língua portuguesa.
            Enfim, estou pouco menos ignorante após a leitura de Pepetela, tanto tempo descansando nas prateleiras.

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