“A professora Emanuela
explicou à classe como é um urso, como os peixes respiram e que sons a hiena
produz à noite. Ela também pendurou na sala gravuras de animais e aves. Quase
todos os alunos debocharam dela, porque nunca na vida tinham visto um animal
sequer. E muitos deles não acreditaram que existissem no mundo tais criaturas.
Pelo menos nas redondezas. Sem contar, disseram, sem contar que a professora
não tinha conseguido encontrar na aldeia alguém que topasse ser seu marido, e
por isso, disseram, a cabeça dela estava cheia de raposas, pardais, todo tipo
de invencionice que as pessoas sozinhas criam devido à solidão.”
Assim tem
início De repente, nas profundezas do
bosque, de Amós Oz (Companhia das Letras, 2007, 12a impressão,
tradução do hebraico Tova Sender). Há uma vaga alusão de que o livro pertence à
classe infanto-juvenil, daí o selo jovem SEGUINTE, da editora. Que seja, mas
interessa a todas as idades.
Trata-se de
uma fábula estranha. À medida que a trama se desenrola, o livro ganha em ação, em
capacidade imaginativa e ainda em maior estranheza.
No primeiro
parágrafo apresentado acima surge uma palavra que se repete ao longo de toda a
história: deboche. Gostaria muito de
conhecer a palavra original, em hebraico, utilizada pelo autor. Trata-se de um
misto de desprezo, pouco caso, agressão, ódio, bullying, discriminação, intolerância, praticados pelos alunos da escola
e por quase toda a comunidade contra aqueles que são diferentes.
Oz termina a
fábula de forma surpreendente, como quem não se dobra às injustiças desse
mundo.
A escrita é
mesmo encantadora, poética em muitos momentos, elegante sempre, digna do grande
escritor que é Amós Oz.
Um ótimo
livro.
Livrinho maravilhoso. Também me chamou a atenção o "deboche". Problema de tradução, talvez? Um grande achado no livro é a "doença do relincho"! Vale a pena!
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