A esperança: flor
seca mas (acaso
ou precaução?) guardada
entre as páginas de um livro.
A incerteza: frio
de faca cortando
em porções cada vez menores
a laranja dos dias.
O amor: latejo
de artéria entupida
por onde o sangue se obstina
em fluir.
A morte: esquina
ainda por virar
quando já estava quase esquecido
o gosto de virá-las.
José Paulo
Paes
Do livro Prosas seguidas de Odes Mínimas
(1922)
***
in memorian
estivesse vivo josé paulo paes
eu lhe enviaria um e-mail
sugerindo que desse o nome ao poema
a laranja dos dias
verso mais lindo
original
saboroso
como a fruta doce
como a fruta doce
para dias tão amargos
de artérias entupidas
de sangue impedido de fluir
de facas cortando o frio
de flores secas perdidas
entre folhas esquecidas
de livros dormindo nas estantes
– esperança perdida –
a morte sempre à espreita
na virada de uma esquina
da vida.
***
Em tempo: José Paulo Paes traduziu Ron Padgett; então
fui a Paes, cuja poesia me parece superior à do americano, embora também fale
das coisas cotidianas da vida, como a laranja dos dias. Presto a ele minha singela homenagem.
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