quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O silêncio de Endo


Termino a leitura de O silêncio, de Shusaku Endo (Ed. Planeta do Brasil, 2011), agradavelmente surpreso. (Tenho lido poucas traduções, pois gosto mesmo é da nossa língua mãe expressa no original, em clássicos e contemporâneos. O livro de Endo apresenta uma agravante para nós, brasileiros: foi traduzido do japonês para o inglês, e deste para o português. Com certeza já não é o mesmo livro original que temos nas mãos. Por que o ler, então?)
            Esperava por amigos numa livraria, fazendo hora para o almoço, e ao pegar um volume qualquer, iniciei a leitura de O silêncio. Não pude interrompê-la, até o término da história. Uma história magnífica!
            (Vivi experiência semelhante há muitos anos, com O perfume, de Patrick Süsskind, literatura pobre, porém com enredo capaz de prender o leitor. O filme com o mesmo nome revelou-se abaixo da crítica.)
            O romance de Endo narra a saga de missionários católicos no Japão do século XVII. Parece que há alguns fatos históricos, mesclados com muita ficção. Porém os temas tratados interessam a qualquer ser humano minimamente curioso: fé, traição, missão, tortura, apostasia, tudo em nome de Deus, de Jesus e de Judas, nas visões do Ocidente e do Oriente. Para os que creem, fica a pergunta fundamental: qual o significado da verdadeira fé?
            A analogia de um certo personagem com o evangelista Judas é fantástica, digna de um José Saramago.
            Se o leitor vence alguns trechos mais monótonos, (não espere literatura de alta qualidade), ele chega ao surpreendente final do romance, fecha o livro, e pode pensar por um bom tempo. Não é esta mesma uma das finalidades da leitura?
            O prefácio é de Martin Scorsese, que mais recentemente resolveu fazer um filme sobre o livro.

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