segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Racismo científico?




Manifestantes na Marcha da Consciência Negra
no último dia 20 de novembro
Foto: Joca Duarte/Photopress

            Minha primeira reação ao ler o slogan estampado na fotografia de artigo publicado no caderno Ilustríssima, da Folha (16/12/2017), foi de grande espanto! Estaria lendo corretamente? Era aquilo mesmo que os manifestantes queriam dizer? Miscigenação é genocídio?
Pois aconteceu mesmo! No dia 20 de novembro, em plena  Av. Paulista, manifestantes negros carregaram a dita faixa. Para ANTONIO RISÉRIO, 64, antropólogo, poeta e ensaísta, autor de "A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros" e "Mulher, Casa e Cidade", trata-se de “retorno a noções racistas anacrônicas (utilizadas pelos brancos no século 19) e pregação explícita em favor de um apartheid amoroso-sexual no Brasil”.
Segundo Risério, descende diretamente do velho guru Abdias do Nascimento (1914-2011) o slogan exibido na Paulista. Abdias via a mestiçagem/miscigenação como estratégia de extermínio da população negra: "(...) o mulato prestou serviços importantes à classe dominante; durante a escravidão ele foi capitão-do-mato, feitor (...). Nele se concentraram as esperanças de conjurar a 'ameaça racial' representada pelos africanos. E estabelecendo o tipo mulato como o primeiro degrau na escada da branquificação sistemática do povo brasileiro, ele é o marco que assinala o início da liquidação da raça negra no Brasil. ...O processo de miscigenação, fundamentado na exploração sexual da negra, foi erguido como um fenômeno de puro e simples genocídio. Com o crescimento da população mulata, a raça negra iria desaparecendo sob a coação do progressivo clareamento da população do país".
Afirma Risério: “os teóricos do "racismo científico" defenderam a tese totalmente sem pé nem cabeça (que agora vemos retomada) de que era possível branquear a população brasileira através da imigração e da miscigenação, já que neste processo prevaleceriam sempre os genes da "raça superior" —a branca, naturalmente”.
            Risério conclui seu ótimo artigo afirmando o óbvio: “Se a mestiçagem diminui a população negra, também diminui a população branca. É curioso que "racistas científicos" e racialistas atuais acreditem no contrário, que a miscigenação branqueia, mas não escurece. A verdade é que o processo biológico não é (nem poderia ser) de mão única, privilegiando magicamente os brancos. A verdade é que, se um dia não houver nenhum negro no Brasil, também não haverá nenhum branco. E assim me vejo na obrigação de repetir aqui uma observação (óbvia) que já fiz inúmeras vezes: se for pelo caminho da miscigenação, o genocídio do negro será inseparável do suicídio do branco.”  
            Vale a pena ler todo o artigo de Antonio Risério, para compreender melhor o que estampa a faixa dos manifestantes. Mas é difícil de acreditar...





Um comentário:

  1. Recomenda-se a (re)leitura de "Tenda dos Milagres", de Jorge Amado, a mais poderosa defesa da miscigenação. Viva a mistura! Raça pura é uma bobagem!

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