domingo, 10 de dezembro de 2017

Moby Dick, a baleia gigante

Da série
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A notícia encontra-se publicada no blog Memória Santista, assinada por Sergio Williams (29 jan 2014), com o título BALEIA GIGANTE MOBY DICK VISITA SANTOS:

“Segunda-feira, 29 de janeiro de 1956. A Praça dos Andradas vivia um movimento maior do que o normal. Em pleno Verão, calorão no centro santista, homens, mulheres e dezenas de crianças se aglomeravam para verem de perto o que a imprensa já vinha anunciando havia alguns dias: uma atração internacional, descomunal, única e espetacular. Chegava a Santos a tão falada baleia Moby Dick, apontada como sendo a estrela de um dos filmes de maior bilheteria do cinema nos anos 1950. O animal marinho, de 20 metros de comprimento e 60 toneladas de peso, chegou a Santos para ser exposta ao público local.”

Foi mostrada aos santistas em comemoração ao segundo campeonato paulista, de 1955, que o Santos Futebol Clube acabara de ganhar. A baleia já havia sido exposta no Rio de Janeiro e em São Paulo.
            Pois foi em São Paulo que a vi!
            Com aproximadamente 10 anos de idade, estávamos na Capital apenas eu e meu querido pai, para tratamento (infrutífero) do meu estrabismo. De repente, bem no centro da cidade, nos deparamos com o anúncio do espetáculo:

Moby Dick, A Baleia Gigante

            Mesmo por fora do tapume que guardava a baleia o cheiro era insuportável, cheiro de peixe podre. Mas não houve jeito: tanto atormentei meu pai que entramos para ver o monstro de 20 metros de comprimentos e 60 toneladas de peso, anunciava a propaganda. (Não me recordo do valor do ingresso, mas permanece a impressão de que não era barato. Em outro momento, voltei a atormentá-lo para que comprasse um bilhete de sorteio de um carrão estacionado no meio da rua e que me fascinou.)
Tratava-se de uma baleia jubarte, pescada no Oceano Atlântico, entre Portugal e Marrocos. Para não se decompor era mantida imersa em 7.000 litros de formol, e colocada no seco durante as exposições.
Fiquei impressionadíssimo com a boca do animal, imensa, mostrando espécie de barbatanas que eu não podia entender do que se tratava, e perguntava ao pai o que era aquilo e ele também não sabia, aquele cheiro horrível a nos encher as narinas, o barulho ensurdecedor de um motor de refrigeração que buscava inutilmente retardar o apodrecimento de Moby Dick, um monte de gente em torno do cadáver, um atordoamento.
Não demoramos na visita à baleia. Saí decepcionado. Meu pai, calado, nem me repreendeu pela frustrada aventura.
           

http://memoriasantista.com.br/?p=167


Em tempo (que bom que o blog permite tais adendos ao texto principal): em conversa com meu irmão Paulo, ele lembrou-se de ter participado da aventura acima descrita, lembrou-se inclusive do cheiro e da cor marrom da baleia. Confesso que suprimi completamente da memória a presença do irmão, certamente querendo a exclusividade do pai.
O irmão há de me perdoar.



Um comentário:

  1. Não há o que perdoar. A memória não tem dessas delicadezas: põe e tira a seu capricho.

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