Da série
Mais 47 cenas de um romance familiar
A
notícia encontra-se publicada no blog Memória Santista, assinada por Sergio Williams
(29 jan 2014), com o título BALEIA GIGANTE MOBY DICK VISITA SANTOS:
“Segunda-feira,
29 de janeiro de 1956. A Praça dos
Andradas vivia um movimento maior do que o normal. Em pleno Verão, calorão no
centro santista, homens, mulheres e dezenas de crianças se aglomeravam para
verem de perto o que a imprensa já vinha anunciando havia alguns dias: uma
atração internacional, descomunal, única e espetacular. Chegava a Santos a tão
falada baleia Moby Dick, apontada como sendo a estrela de um dos filmes de
maior bilheteria do cinema nos anos 1950. O animal marinho, de 20 metros de
comprimento e 60 toneladas de peso, chegou a Santos para ser exposta ao público
local.”
Foi
mostrada aos santistas em comemoração ao segundo campeonato paulista, de 1955, que
o Santos Futebol Clube acabara de ganhar. A baleia já havia sido exposta no Rio
de Janeiro e em São Paulo.
Pois
foi em São Paulo que a vi!
Com aproximadamente 10 anos de
idade, estávamos na Capital apenas eu e meu querido pai, para tratamento
(infrutífero) do meu estrabismo. De repente, bem no centro da cidade, nos
deparamos com o anúncio do espetáculo:
Moby Dick, A Baleia
Gigante
Mesmo por fora do tapume que
guardava a baleia o cheiro era insuportável, cheiro de peixe podre. Mas não
houve jeito: tanto atormentei meu pai que entramos para ver o monstro de 20
metros de comprimentos e 60 toneladas de peso, anunciava a propaganda. (Não me
recordo do valor do ingresso, mas permanece a impressão de que não era barato. Em
outro momento, voltei a atormentá-lo para que comprasse um bilhete de sorteio
de um carrão estacionado no meio da rua e que me fascinou.)
Tratava-se
de uma baleia jubarte, pescada no Oceano Atlântico, entre Portugal e Marrocos.
Para não se decompor era mantida imersa em 7.000 litros de formol, e colocada
no seco durante as exposições.
Fiquei
impressionadíssimo com a boca do animal, imensa, mostrando espécie de barbatanas
que eu não podia entender do que se tratava, e perguntava ao pai o que era
aquilo e ele também não sabia, aquele cheiro horrível a nos encher as narinas, o
barulho ensurdecedor de um motor de refrigeração que buscava inutilmente retardar
o apodrecimento de Moby Dick, um monte de gente em torno do cadáver, um atordoamento.
Não demoramos na visita à baleia. Saí decepcionado. Meu pai, calado, nem me
repreendeu pela frustrada aventura.
http://memoriasantista.com.br/?p=167
Em tempo (que bom que o blog permite tais adendos ao texto principal): em conversa com meu irmão Paulo, ele lembrou-se de ter participado da aventura acima descrita, lembrou-se inclusive do cheiro e da cor marrom da baleia. Confesso que suprimi completamente da memória a presença do irmão, certamente querendo a exclusividade do pai.
O irmão há de me perdoar.
Em tempo (que bom que o blog permite tais adendos ao texto principal): em conversa com meu irmão Paulo, ele lembrou-se de ter participado da aventura acima descrita, lembrou-se inclusive do cheiro e da cor marrom da baleia. Confesso que suprimi completamente da memória a presença do irmão, certamente querendo a exclusividade do pai.
O irmão há de me perdoar.
Não há o que perdoar. A memória não tem dessas delicadezas: põe e tira a seu capricho.
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