Ele
foi o vencedor do Prêmio Jabuti 2016, o que não deixa de ser sugestão de boa
leitura. Mas é preciso conferir: cada homem uma cabeça, cada leitor uma
leitura.
Estou
a tratar de A Resistência, de Julián
Fuks (Companhia das Letras, 2015, ótima capa).
A
“história” é narrada pelo filho menor de uma família argentina composta de pais
educados e um filho adotado, além do filho narrador. Não estou certo – nada é
certo no livro – se há uma história a ser contada, ou mesmo se era a vontade do
narrador contá-la. Há lembranças, sempre vagas, reminiscências, incertezas, dúvidas,
possibilidades, rumores entreouvidos, quem sabe?
O
que gera clima adequado para o período em que se desenrolam os “fatos”. Que
nítidas lembranças afinal poderia ter um menino pequeno, vivendo num país
assolado por feroz ditadura, cuidado por pais assombrados?
A
escrita é sofisticada e elegante na maior parte das vezes. O estilo torna-se um
tanto rebuscado em certas passagens, em meu ponto de vista.
Para
a apreciação do leitor:
“É
preciso aprender a resistir. Nem rir, nem ficar, aprender a resistir. Penso
nesses versos em que meu pai não poderia ter pensado, versos inescritos na
época, versos que lhe faltavam. Penso em meu pai na última reunião clandestina
que lhe coube presenciar, quieto entre militantes exaltados, abstraído do
bulício das vozes. Resistir: quanto em resistir é aceitar impávido a desgraça,
transigir com a destruição cotidiana, tolerar a ruína dos próximos? Resistir
será aguentar em pé a queda dos outros, e até quando, até que as pernas
próprias desabem? Resistir será lutar apesar da óbvia derrota, gritar apesar da
rouquidão da voz, agir apesar da rouquidão da vontade? É preciso aprender a resistir,
mas resistir nunca será se entregar a uma sorte já lançada, nunca será se
curvar a um futuro inevitável. Quanto do aprender a resistir não será aprender
a perguntar-se?”
Perguntar-se, um bom exercício,
sempre. Mas toda vez que o autor ficar indeciso entre relatar a realidade e
entregar-se à ficção, ele corre o risco de perder-se. (Talvez isso tenha ocorrido
com Chico Buarque, em O irmão alemão.)
Um
bom livro, afinal. O ainda jovem autor promete.
Intrigante. Uma boa forma de resistência diante da ditadura será fugir para o reino da abstração?
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