sábado, 9 de setembro de 2017

Neandertais, humanos como nós



A caverna de Gorham, em Gibraltar. JUAN MILLÁS


Há cerca de 70.000 anos, um pequeno grupo humano, de dois ou três indivíduos, pescou alguns mexilhões, se aproximou de um abrigo rochoso, acendeu uma fogueira e, enquanto comia os moluscos, começou a talhar pedras. As marcas daquela cena ficaram fossilizadas, permitindo a reconstrução por cientistas que trabalham em dois sítios arqueológicos do Rochedo de Gibraltar, as cavernas de Vanguard e Gorham. ...aqueles humanos não eram sapiens como nós. Como neandertais, pertenciam a uma espécie humana diversa. Seus últimos membros viveram neste recanto do sul da Europa. ...a arqueologia revelou que não eram hominídeos brutos e dotados de pouca razão, como foram descritos com muita frequência, mas seres muito semelhantes a nós, porém ao mesmo tempo diferentes, e não apenas anatomicamente.”

Assim tem início a reportagem de Guillermo Altares para Elpaís (6 set 2017), com o título Neandertais, a extinção dos outros humanos, repleta de perguntas instigantes:  O fim deles estava relacionado às mudanças climáticas? A tecnologia nos torna superiores? E, se eles desapareceram, por que ainda estamos aqui?
A definição dos neandertais como humanos vem da capacidade deles de linguagem (tinham a mesma mutação no gene FoxP2, associada nos humanos à fala), além do que enterravam seus mortos e eram solidários com aqueles que não podiam se defender. Foi encontrado em Gibraltar um desenho geométrico que indicaria a capacidade de conceber um pensamento simbólico.
O nome neandertais vem do vale de Neander, na Alemanha, onde alguns dos primeiros vestígios foram descobertos. Essa espécie humana viveu na Europa, do extremo sul do Mediterrâneo à Sibéria, e em algumas áreas do Oriente Médio. A maioria dos cientistas acredita que evoluíram de uma espécie anterior de hominídeos há cerca de 250.000 - 300.000 anos.
Seu misterioso desaparecimento, há cerca de 40.000 anos (a equipe de Finlayson discorda e acredita que os neandertais viveram em Gibraltar até 28.000 anos atrás), coincide com a chegada de nossa espécie, os sapiens, à Europa vinda da África.
A espécie habitou a Europa por 200.000 anos. (Nossa civilização tem apenas 10.000 anos; Altamira foi pintada há cerca de 15.000 e a Pirâmide de Quéops foi construída há 4.500 anos.)
Os neandertais foram capazes de sobreviver durante todo esse tempo adaptados a condições climáticas variadas e, às vezes, extremamente frias, mas desapareceram em um espaço de tempo relativamente curto. É provável que a deterioração climática e ecológica tenha influenciado a extinção.
Os homens modernos, os sapiens que chegavam da África, entraram em contato com neandertais há cerca de 70.000 anos no Oriente Médio.
O sequenciamento do genoma neandertal revelou que se tratam de duas espécies diferentes, porém houve hibridações entre neandertais e sapiens no Oriente Médio há 70.000 anos. O resultado é que os humanos não africanos têm entre 2% e 4% de genes neandertais.
Há 150.000 anos coexistiam quatro espécies de humanos: sapiens, neandertais, floresiensis e erectus.
E Alteres conclui sua reportagem: “Agora, as questões que os neandertais nos colocam são diferentes, mas igualmente significativas. Por que uma espécie desaparece? O que nos transforma em humanos? A tecnologia nos torna superiores? E, em tempos de mudanças climáticas, é especialmente importante nos perguntarmos até que ponto é possível sobreviver a uma transformação drástica no meio ambiente. Aqueles outros humanos mudaram uma vez nossa forma de ver o mundo e está acontecendo de novo. O lugar onde sobreviveram os últimos neandertais é agora uma área de análise no solo úmido da caverna de Gorham, onde um grupo internacional de arqueólogos escava pacientemente, enquanto outros cientistas examinam restos milimétricos em um laboratório. Tentam entender quem foram esses outros humanos e, portanto, quem somos nós.”
             Causa espanto - o Louco não cansa de repetir - que com tantas descobertas referentes à Evolução das Espécies, ainda haja quem fale em Criacionismo.



Um comentário:

  1. Instigante. É como se tivesse existido outro tipo de gente. Mas de outra espécie que também sabia falar!

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