sexta-feira, 7 de julho de 2017

Música e Política

Em sua coluna Falando de Música, para o Estado da Arte (06 Julho 2017), Leandro Oliveira transcreve o post da pianista venezuelana Gabriela Montero no Facebook, e levanta a seguinte questão: até que ponto podemos falar de política, em se tratando de música?
            Vejamos o texto de Montero:

“O que aconteceu com o meu concerto na Komische Oper Berlin?
Há muitas maneiras de quebrar o silêncio que envolveu a tragédia venezuelana durante tantos anos. O que aconteceu na Komische Oper em Berlim na sexta-feira (dia 30 de junho), quando Mirga (Gražinytė-Tyla, a regente do evento), a orquestra e eu estávamos prestes a começar o Concerto No. 1 de Tchaikovsky, foi tão surpreendente quanto desesperada e profundamente comovente.
Para nossa surpresa, um homem e uma mulher venezuelanos sentados na primeira fila da esquerda se levantaram e começaram a cantar o hino nacional venezuelano. Estávamos todos atordoados. Virei-me para ouvir, observar e admirar a coragem que deve ter permitido a essas duas pessoas quebrar o silêncio, a aura sagrada deste templo da música clássica.
Quem se atreve a fazer tal coisa? (…)
Depois de alguns minutos de escuta atenta por parte do público, o que eu agradeço muito, pois a maioria deles não entendia do que se tratava aquele ato de protesto e grito desesperado, Mirga começou o concerto. Eu fui para o piano e comecei a tocar a mais dolorosa e poderosa interpretação deste concerto que já dei.
Depois de aplausos, como normalmente, eu peguei o microfone antes de dar o bis. Usava em volta do pescoço um colar que tinha feito com as cores da bandeira de Venezuela. Sentei-me para explicar ao público o que tinha acontecido. Comecei dizendo: “Eu quero explicar o que aconteceu. Esse casal, que não conheço, entoou com grande coragem o nosso Hino Nacional para lembrar ao mundo que, fora destas paredes, da segurança da sala de concertos, há muitas pessoas que estão sofrendo. Nosso país, Venezuela, está sofrendo e passando por seus mais terríveis dias”.
Naquele momento um homem gritou de um dos balcões, em alemão, ‘este não é o lugar para discutir política’. Imediatamente respondi alto e claro que ‘se a música não tem a ver com a humanidade, então isso não significa nada’. O público me apoiou com aplausos, explicitando que entendeu a minha mensagem. (…)”

            Leandro Oliveira, em sua coluna, também não perde oportunidade de comentar sobre o mundo da música, inserido no mundo político em que vivemos.





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