Em sua coluna
Falando de Música, para o Estado
da Arte (06 Julho 2017), Leandro Oliveira transcreve o post
da pianista venezuelana Gabriela Montero no Facebook,
e levanta a seguinte questão: até
que ponto podemos falar de política, em se tratando de música?
Vejamos o texto de
Montero:
“O que
aconteceu com o meu concerto na Komische Oper Berlin?
Há
muitas maneiras de quebrar o silêncio que envolveu a tragédia venezuelana
durante tantos anos. O que aconteceu na Komische Oper em Berlim na sexta-feira
(dia 30 de junho), quando Mirga (Gražinytė-Tyla, a regente do evento), a
orquestra e eu estávamos prestes a começar o Concerto No. 1 de Tchaikovsky, foi
tão surpreendente quanto desesperada e profundamente comovente.
Para
nossa surpresa, um homem e uma mulher venezuelanos sentados na primeira fila da
esquerda se levantaram e começaram a cantar o hino nacional venezuelano.
Estávamos todos atordoados. Virei-me para ouvir, observar e admirar a coragem
que deve ter permitido a essas duas pessoas quebrar o silêncio, a aura sagrada
deste templo da música clássica.
Quem se
atreve a fazer tal coisa? (…)
Depois
de alguns minutos de escuta atenta por parte do público, o que eu agradeço
muito, pois a maioria deles não entendia do que se tratava aquele ato de
protesto e grito desesperado, Mirga começou o concerto. Eu fui para o piano e
comecei a tocar a mais dolorosa e poderosa interpretação deste concerto que já
dei.
Depois
de aplausos, como normalmente, eu peguei o microfone antes de dar o bis. Usava
em volta do pescoço um colar que tinha feito com as cores da bandeira de
Venezuela. Sentei-me para explicar ao público o que tinha acontecido. Comecei
dizendo: “Eu quero explicar o que aconteceu. Esse casal, que não conheço,
entoou com grande coragem o nosso Hino Nacional para lembrar ao mundo que, fora
destas paredes, da segurança da sala de concertos, há muitas pessoas que estão
sofrendo. Nosso país, Venezuela, está sofrendo e passando por seus mais
terríveis dias”.
Naquele
momento um homem gritou de um dos balcões, em alemão, ‘este não é o lugar para
discutir política’. Imediatamente respondi alto e claro que ‘se a música não
tem a ver com a humanidade, então isso não significa nada’. O público me apoiou
com aplausos, explicitando que entendeu a minha mensagem. (…)”
Leandro Oliveira, em
sua coluna, também não perde oportunidade de comentar sobre o mundo da música, inserido
no mundo político em que vivemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário