Antonio Candido afirma:
“Para compreender em que sentido é
tomada a palavra formação, e porque se qualificam de decisivos os momentos
estudados, convém principiar distinguindo manifestações literárias, de
literatura, propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras ligadas por
denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase.
Estes denominadores são, além das características internas (língua, temas, imagens),
certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente
organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto
orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto
de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto
de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não
vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em
estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um
tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo
como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do
indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens, e de
interpretação das diferentes esferas da realidade. Quando a atividade dos
escritores de um dado período se integra em tal sistema, ocorre outro elemento
decisivo: a formação da continuidade literária, – espécie de transmissão da
tocha entre corredores, que assegura no tempo o movimento conjunto, definindo
os lineamentos de um todo. É uma tradição, no sentido completo do termo, isto
é, transmissão de algo entre os homens, é o conjunto de elementos transmitidos,
formando padrões que se impõem ao pensamento ou ao comportamento, e aos quais
somos obrigados a nos referir, para aceitar ou rejeitar. Sem esta tradição não
há Literatura, como fenômeno de tradição. (Antonio Candido, Formação da literatura
brasileira)
Parece que o homem sabia escrever, hem?
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