Minha querida Suzete,
minha célere resposta à
sua última carta (deliciosa!) é inspirada na crônica de estreia de ninguém
menos que Cristovão Tezza , publicada hoje (23/4) na Folha de S.Paulo. O título
já é instigante: Literratura, internet e
silêncio.
Logo de início Tezza anuncia: “Como as coisas vão
acontecendo todas ao mesmo tempo, é difícil enxergar os detalhes do dia a dia.”
Você já havia escrito isso em sua cartinha, Suzete: o que
a faz atordoada. Pois atordoa a todos nós, incluindo o grande Tezza, famoso mas
não imune ao bombardeio inclemente de notícias.
Tezza destaca o papel da internet neste processo:
“Num estalo, milhões de pessoas que jamais leram ou
escreveram nada estavam lendo ou escrevendo alguma coisa em milhões de telinhas
e teclados. Um potencial civilizatório gigantesco, o triunfo final da palavra
escrita, um salto maravilhoso na
educação do país, imaginava eu.
Mas, em pouco tempo, comecei a perceber que havia
alguma coisa errada em minha equação mecânica: aparentemente, todos leem o
tempo todo, mas nada além de manchetes, pedaços de frases e caixas de
comentários.”
E o autor conclui:
“Mas não produz nada: é apenas (apenas?) um
ambiente inescapável de sentidos e relações que vem desestruturando todos os
aspectos consolidados da vida pré-internet com uma rapidez e uma simultaneidade
assustadoras. Nesse sentido, somos cobaias mutantes de um momento brutal de transformação tecnológica.”
Bem, este “não produz nada” atinge em cheio o ego do
Louco. De fato, o pouquíssimo que este blog produz destina-se apenas (apenas?)
a um ou dois leitores, talvez três, não mais. De certa maneira os atinge, estou
certo disso. É nada?
Eu mesmo continuo a ser o maior beneficiário desta
escrita terapêutica, que ajuda a manter funcionando meu cérebro precário. Tal
serventia não é pouca coisa, procuro me educar.
Beneficio-me
(Suzete, a moda agora é escrever “Me beneficio”...) também dos comentários que
recebo, sempre carinhosos, apoiadores, e da correspondência de alguns amigos
como você, cara Suzete. O poema do inesperado Oswald de Andrade me fez um bem
enorme!
Tezza
precisa ler suas cartinhas! Ele cita a Literatura e o Silêncio igualmente como
antídotos eficazes contra “tanta coisa ao mesmo tempo”. Penso, Suzete, que este
Silêncio é bem mais que o “pensar em nada” que você cita e critica em sua
carta.
E assim
passam os dias...
Beijo
afetuoso do amigo de sempre,
André
Finalmente o louco encontrou uma interlocutora à altura. No belo filme 'Paterson' de Jim Jarmush, um personagem às tantas resmunga diante do tabuleiro de xadrez: 'Hoje vou levar uma surra.'
ResponderExcluirJogava contra ele mesmo...
Belo comentário o seu, Paulo. Deu-me o que pensar.
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