Meu querido André,
olha eu de novo aqui!
Tenho acompanhado você pelo Louco por cachorros, blog
informativo, divertido, que faz pensar, rir, até chorar. Daí a vontade de lhe
escrever, eu que me sinto muito só, angustiada com a situação vergonhosa em que
vive o nosso Brasil. Confesso que ando atordoada.
Acompanho o canal de notícias GloboNews, e me chamou a
atenção um anúncio que não é bem um anúncio, porém inteligente, que diz o
seguinte: “é tanta coisa acontecendo (ao
mesmo tempo) que nós decidimos te dar alguns segundos para não pensar em nada”,
e então surgem imagens como um hipopótamo e seu filhote entrando na água,
nuvens sobre montanhas, coisas desse tipo, aparentemente sem sentido, que não
querem dizer nada, para o expectador não pensar em nada.
Essa história de não pensar em nada achei uma grande
babaquice (olha o Mirisola aí!). Mas a ideia de que está acontecendo muita
coisa ao mesmo tempo, achei isso uma grande verdade: talvez seja a causa do meu
atordoamento.
Os poucos segundos que o tal anúncio oferece para a gente
não pensar não são suficientes. Então resolvi desligar a tv e escrever a você.
Sobre o quê? Tudo, menos essa situação que envergonha, dá raiva, entristece,
faz a gente desacreditar no país e até na vida.
Quero falar do livro Oswald de Andrade – Poesias
Reunidas, que você divulgou no blog. Você só não disse que o homem era meio
difícil, aliás muito difícil, pelo menos pra mim. Mas tem um livro dele que eu
adorei: Cântico Dos Cânticos Para Flauta E Violão. E que começa assim:
oferta
Saibam quantos este meu
verso virem
Que te amo
Do amor maior
Que possível for
canção e calendário
Sol de montanha
Sol esquivo de montanha
Felicidade
Teu nome é
Maria Antonieta d`Alkmin
No fundo do poço
No cimo do monte
No poço sem fundo
Na ponte quebrada
No rego da fonte
Na ponta da lança
No monte profundo
Nevada
Entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d`Alkmin
Felicidade forjada nas
trevas
Entre os crimes contra mim
Sol de montanha
Maria Antonieta d`Alkmin
Não quero mais as
moreninhas de Macedo
Não quero mais as
namoradas
Do senhor poeta
Alberto d`Oliveira
Quero você
Não quero mais
Crucificadas em meus
cabelos
Quero você
Não quero mais
A inglesa Elena
Não quero mais
A irmã da Nena
Não quero mais
A bela Elena
Anabela
Ana Bolena
Quero você
Toma conta do céu
Toma conta da terra
Toma conta do mar
Toma conta de mim
Maria Antonieta d`Alkmin
E se ele vier
Defenderei
E se ela vier
Defenderei
E se eles vierem
Defenderei
E se elas vierem todas
Numa guirlanda de flechas
Defenderei
Defenderei
Defenderei
Cais de minha vida
Partida sete vezes
Cais de minha vida
quebrada
Nas prisões
Suada nas ruas
Modelada
Na aurora indecisa dos
hospitais
Bonançosa bonança
Gostei muito do poema. Não sei quem é esta tal de Maria
Antonieta d`Alkmin nem quero saber, mas morri de inveja dela, nunca ninguém
escreveu um poema de amor para mim, assim tão simples e tão bonito. “Cais de
minha vida”... Isso é lindo!
Meu antídoto para tanta desgraça.
Hoje comprei um livrinho novo da Heloisa Seixas, que eu
amo. Chama-se “agora e na hora”, é um romance, da Companhia das Letras. Se for
tão bom quanto estou tomarando (do verbo tomarar, que vem de tomara, desejo,
desejando, entendeu?), escrevo para você contando minha opinião.
Beijo grande
da sempre sua
Suzete.
Essa Suzete é uma graça, uma beleza de pessoa. Quem bom gosto e bom senso ela tem! Precisava aparecer no louco com mais frequëncia.
ResponderExcluirVeja você, tudo na vida é uma questão de educação.
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