terça-feira, 11 de abril de 2017

Profissionais do pênalti


Jogadores da Ponte abraçam o goleiro!


Houve um tempo em que se dizia, Disputa por pênaltis é loteria! Esse tempo já passou, futebol é coisa séria.
Dizia-se que pênalti é coisa tão séria que devia ser batido pelo presidente do clube. Mesmo assim, antigamente jogador de futebol não treinava batida de pênaltis. Parecia que fazer o gol diante de um pobre desvalido goleiro era coisa óbvia, certa, sólida, taxativa, determinada, inequívoca, imperativa, peremptória, natural, assente, fatal. Era chutar e pronto: bola na rede.
Às vezes o batedor falhava, bola na trave, bola fora, defesa do goleiro, este imediatamente posto em pedestal de herói da pátria, abraçado e beijado pelos companheiros, ovacionado pela torcida. Mas isso era uma exceção, a regra era bola na rede, obrigação do batedor.
Os tempos agora são outros porque existe uma nova personagem em ação, o treinador de goleiros! Este sujeito anda sempre com um laptop na mão, tem registrado o modo como cada jogador de todos os times bate o pênalti, em que canto, com que força, com a perna direita, com a esquerda, as variações que costuma empregar, se está com dor de garganta, se brigou com a mulher na véspera do jogo, se teve uma imprevista caganeira ou sonhos maus, tudo registrado no laptop do treinador de goleiros, as ocorrências de todos os batedores de pênaltis do mundo inteiro! Num laptop cabe tudo.
Do mesmo modo, o batedor fica sabendo das manhas de cada goleiro, para que lado ele costuma pular, se fica parado no meio do gol, de dá dois passos adiante antes da batida, se está com dor de garganta, etc (não vou repetir a sequência para não ofender os mais delicados).
Em resumo, bater pênalti virou CIÊNCIA.
Pois ontem o Santos ganhou da Ponte Preta no Pacaembu, Campeonato Paulista, por 1 a 0, e com isso os times foram para a disputa de pênaltis, já que no primeiro jogo a Ponte havia ganho pelo mesmo placar. Tratava-se da classificação para as semifinais, jogo importantíssimo.
Logo no segundo pênalti, o goleiro Aranha, da Ponte, defendeu, bola muito mal chutada por um beque casca-grossa, um defensor, homem acostumado à força e não ao jeito, chutou fraco, o goleiro pulou no canto certo, orientado pelo treinador de goleiros.
Já a Ponte Preta bateu os 5 pênaltis no canto, no alto, com força, onde nenhum goleiro do mundo poderia alcançar. O responsável pela façanha? O treinador de batidas de pênalti, outra personagem do futebol atual! (O beque do Santos foi mal orientado: zagueiro quando bate pênalti, enche o pé no meio do gol.) 
Importante alertar que este indefensável pênalti, batido no canto, no alto e com força, é ao mesmo tempo a batida com maior risco de erro, quando a bola passa por cima da trave. É preciso saber bater, ou a bola vai parar na arquibancada!
Classificou-se a Ponte Preta, cientificamente.


Foto: Gazeta Press

Um comentário:

  1. Não por acaso se chama, no jargão especializado, com ares de ciência jurídica, "penalidade máxima". Só faltava nome em latim: "maxima culpa".

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