Em sua crônica Força e fragilidade
psíquicas (Estado da Arte, 20 Março 2017), o psicanalista
e historiador Felipe Pimentel destaca o
difícil debate na área da psiquiatria, psicologia e psicanálise sobre a
definição do que é normal e do que é patológico.
Quanto ao diagnóstico de uma situação supostamente
anormal, afirma Pimentel: “somos nós mesmos que percebemos nosso mal-estar, e
não alguém externo que aponta sintomas que apresentamos.”
Então ele formula duas questões interessantes: “E quando
nossas ferramentas não funcionam? E mais: o que significa dizer que elas não
funcionam – que estamos doentes?”
As conclusões a que Pimentel chega a partir deste
raciocínio me parecem brilhantes:
“Primeiro, as nossas ferramentas não deixam de funcionar
quando estamos frágeis ou mesmo diante de situações traumáticas e difíceis.
Pelo contrário, nossa mente possui uma força descomunal e é capaz de suportar
traumas mastodônticos sem colapsar. Diante de traumas, ela utiliza os mais
diversos expedientes que temos disponíveis para lidar com ele, fugas,
racionalizações, atuações e uma centena de soluções particulares. Se nossa
mente enfrentasse os traumas (reais ou internos) diretamente seria insuportável
para ela, e isso já nos aponta a resposta: assim como ela se protege do horror,
nossa mente também só se permite
colapsar muitas vezes quando estamos fortes – e não frágeis. Quer dizer,
quando ela se sente mais fortalecida para vivenciar nossas angústias, é
possível que ela nos mande um alerta, que também é um convite: agora que
estamos com mais recursos, quem sabe sofrer um pouco para reorganizar o que nos
causa mal-estar? Isso explica porque muitas pessoas ultrapassam traumas
incríveis incolumemente para depois caírem em crises psicológicas em momentos
distantes e aparentemente tranquilos ou até mesmo diante de situações
superficialmente muito mais simples e singelas que traumas passados. Desse
modo, para um psicanalista, uma crise psicológica é, muitas vezes, o avesso de
uma fragilidade psíquica, mas o indício de que naquele momento a mente está
fortalecida para baixar suas defesas e encarar suas angústias. E é nesse
momento que surge a mais bela oportunidade para nos transformarmos e escaparmos
das amarras e imbróglios que nosso próprio modo de funcionamento montou.”
O grifo acima é meu, para destacar a ideia de que nossa
mente às vezes se permite colapsar. E isso pode ocorrer exatamente quando nos
sentimos mais fortes.
Durante o processo analítico, são os difíceis entraves
entre analista e analisando, gerando “crises” que muitas vezes levam este
último ao desespero (chegando a abandonar a análise), que permitem a expansão
psíquica quando vencidos.
Nas palavras
de Pimentel, “uma crise psicológica é, muitas vezes, o avesso de uma
fragilidade psíquica”. O real
entendimento desta situação ajuda o sujeito a vencer os traumas que a vida
se nos apresenta. Em palavras mais simples, nossa fraqueza pode constituir-se
em nossa força. Aprender a admitir e respeitar esta fragilidade, como condição intrínseca
do ser humano, nos parece o primeiro passo para tal entendimento.
Muito interessante. Então, chorar não quer dizer ser fraco? As mulheres têm sempre razão, e os homens estão ainda aprendendo.
ResponderExcluirA fraqueza de todos nós, independente de gênero, pode ser nossa força.
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