Empatia, em definição resumidíssima,
significa a capacidade de sentir o que o outro está sentindo. A aplicação da
palavra em Medicina generalizou-se, como bom exemplo de relação
médico-paciente: espera-se empatia do médico para com seu paciente. Nada mais altruísta!
Agora surge o psicólogo canadense Paul
Bloom (Professor de Psicologia na Universidade Yale, com textos publicados em
revistas científicas como Nature e Science, além de outros veículos como
The New York Times e The New Yorker) que
afirma que a “Empatia piora o mundo”. Este é o título da entrevista a Hamilton dos Santos (Folha,
26/03/2017).
As ideias de Bloom estão
no livro Against Empathy: The Case for Rational Compassion (Ecco) (Contra a empatia: por uma
compaixão racional).
Na entrevista, “Ele ataca o impulso
natural que os homens têm de sentir os sentimentos alheios (ou de se projetar
neles) e afirma ser justamente esse instinto uma das causas mais significativas
da desigualdade e da imoralidade que predominam na sociedade atual.”
"Vários estudos mostram que a
empatia nos impele a dar mais importância ao que acontece com uma pessoa do que
[ao que ocorre] com muitas", diz Bloom. "Ela leva não só indivíduos,
mas também nações e organizações, a tomar as piores decisões. As pessoas mais
empáticas são também as mais propensas a represálias violentas."
Afirma ainda
Bloom:
“A
empatia – entendida como a capacidade de compartilhar dos sentimentos alheios
e, acima de tudo, de sentir a dor alheia – é um grande desastre moral. O
exercício da empatia nos conduz às piores decisões e a um mundo pior.
As mais
recentes pesquisas da neurociência e a experiência do cotidiano revelam que é
relativamente fácil se colocar no lugar daqueles que você ama, de alguém
próximo, atraente, amigável ou que se parece com você. Mas a empatia por quem
lhe é distante se dá com bem menos naturalidade.
Além
disso, a empatia não pode ser quantificada e naturalmente expandida. Ela
funciona como um holofote, isto é, só podemos centrá-la em um indivíduo ou num
grupo pequeno. Vários estudos mostram que, estranhamente, a empatia nos impele
a dar mais importância ao que acontece com uma pessoa do que [ao que ocorre]
com muitas.
Por
fim, a empatia pode ser usada para induzir pessoas a endossar posições
políticas das mais cruéis.
A
empatia compromete o nosso julgamento: damos naturalmente mais importância a
uma menininha que caiu num poço do que a crises que afetam milhões de pessoas,
como a mudança climática. A empatia deflagrada por histórias de vítimas
inocentes é facilmente utilizada para incitar ódio contra grupos minoritários,
ou para gerar apoio a guerras desnecessárias.
Quando
consideramos que a justiça requer algum tipo de imparcialidade – ou seja, que a
importância ou a beleza de uma pessoa não deveria ser levada em conta no modo
como a tratamos; que a resposta empática a alguém que está na fila do
transplante de órgãos não deveria nos levar a passá-lo na frente dos demais –,
torna-se claro que a empatia constitui, sim, um guia muito pobre para a moral.
Trata-se,
repito, de um princípio da natureza humana excessivamente tendencioso.”
E o
entrevistador pergunta: “Ao mesmo tempo em que desenvolve uma argumentação
contra a empatia, seu livro faz uma longa apologia da compaixão. Por quê?”
“A
distinção entre essas duas capacidades humanas é crítica para o meu argumento
contra a empatia. Ela é feita de forma brilhante pelas neurocientistas Tania
Singer e Olga Klimecki em um artigo na revista Current Biology: http://www.cell.com/current-biology/abstract/S0960-9822(14)00770-2.
Elas
escrevem que, "em contraste com a empatia, a compaixão não significa
compartilhar do sofrimento do outro: antes, se caracteriza por sentimentos
calorosos, como zelo e cuidado com o outro, assim como por uma forte motivação
para melhorar o seu bem-estar. A compaixão é sentir algo pelo outro, e não
sentir algo com o outro".
E acrescenta Bloom:
“A
empatia nos leva a confundir nossos sentimentos com os dos outros e nos coloca
em uma situação de pleno envolvimento. Isso não acontece no processo da
compaixão, que nos coloca muito mais como observadores. Logo, é possível
concluir que a empatia tende à irracionalidade, enquanto a compaixão deixa uma
janela aberta para a razão.”
Vamos
pensar sobre o assunto?
Curiosa a posição do sujeito. Só não ficou clara a exclusão de uma pela outra: não é possível sentir empatia e também compaixão? Não seria uma questão de analisar com clareza cada situação humana?
ResponderExcluirSim, vamos pensar sobre o assunto. Gosto muito do assunto, pois venho estudando sobre o sentimento de compaixão. Entendo que sentimento este sim maior que a empatia. A compaixão é um sentimento que podemos ir trabalhando e desenvolvendo e caminha junto com nossa evolução como seres.
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