segunda-feira, 27 de março de 2017

Empatia em xeque

Empatia, em definição resumidíssima, significa a capacidade de sentir o que o outro está sentindo. A aplicação da palavra em Medicina generalizou-se, como bom exemplo de relação médico-paciente: espera-se empatia do médico para com seu paciente. Nada mais altruísta!
Agora surge o psicólogo canadense Paul Bloom (Professor de Psicologia na Universidade Yale, com textos publicados em revistas científicas como Nature e Science, além de outros veículos como The New York Times e The New Yorker) que afirma que a “Empatia piora o mundo”. Este é o título da entrevista a Hamilton dos Santos (Folha, 26/03/2017).
As ideias de Bloom estão no livro Against Empathy: The Case for Rational Compassion (Ecco) (Contra a empatia: por uma compaixão racional).
Na entrevista, “Ele ataca o impulso natural que os homens têm de sentir os sentimentos alheios (ou de se projetar neles) e afirma ser justamente esse instinto uma das causas mais significativas da desigualdade e da imoralidade que predominam na sociedade atual.”
"Vários estudos mostram que a empatia nos impele a dar mais importância ao que acontece com uma pessoa do que [ao que ocorre] com muitas", diz Bloom. "Ela leva não só indivíduos, mas também nações e organizações, a tomar as piores decisões. As pessoas mais empáticas são também as mais propensas a represálias violentas."
            Afirma ainda Bloom:

“A empatia – entendida como a capacidade de compartilhar dos sentimentos alheios e, acima de tudo, de sentir a dor alheia – é um grande desastre moral. O exercício da empatia nos conduz às piores decisões e a um mundo pior.
As mais recentes pesquisas da neurociência e a experiência do cotidiano revelam que é relativamente fácil se colocar no lugar daqueles que você ama, de alguém próximo, atraente, amigável ou que se parece com você. Mas a empatia por quem lhe é distante se dá com bem menos naturalidade.
Além disso, a empatia não pode ser quantificada e naturalmente expandida. Ela funciona como um holofote, isto é, só podemos centrá-la em um indivíduo ou num grupo pequeno. Vários estudos mostram que, estranhamente, a empatia nos impele a dar mais importância ao que acontece com uma pessoa do que [ao que ocorre] com muitas.
Por fim, a empatia pode ser usada para induzir pessoas a endossar posições políticas das mais cruéis.
A empatia compromete o nosso julgamento: damos naturalmente mais importância a uma menininha que caiu num poço do que a crises que afetam milhões de pessoas, como a mudança climática. A empatia deflagrada por histórias de vítimas inocentes é facilmente utilizada para incitar ódio contra grupos minoritários, ou para gerar apoio a guerras desnecessárias.
Quando consideramos que a justiça requer algum tipo de imparcialidade – ou seja, que a importância ou a beleza de uma pessoa não deveria ser levada em conta no modo como a tratamos; que a resposta empática a alguém que está na fila do transplante de órgãos não deveria nos levar a passá-lo na frente dos demais –, torna-se claro que a empatia constitui, sim, um guia muito pobre para a moral.
Trata-se, repito, de um princípio da natureza humana excessivamente tendencioso.”

E o entrevistador pergunta: “Ao mesmo tempo em que desenvolve uma argumentação contra a empatia, seu livro faz uma longa apologia da compaixão. Por quê?”

“A distinção entre essas duas capacidades humanas é crítica para o meu argumento contra a empatia. Ela é feita de forma brilhante pelas neurocientistas Tania Singer e Olga Klimecki em um artigo na revista Current Biology: http://www.cell.com/current-biology/abstract/S0960-9822(14)00770-2.
Elas escrevem que, "em contraste com a empatia, a compaixão não significa compartilhar do sofrimento do outro: antes, se caracteriza por sentimentos calorosos, como zelo e cuidado com o outro, assim como por uma forte motivação para melhorar o seu bem-estar. A compaixão é sentir algo pelo outro, e não sentir algo com o outro".
           
E acrescenta Bloom:

“A empatia nos leva a confundir nossos sentimentos com os dos outros e nos coloca em uma situação de pleno envolvimento. Isso não acontece no processo da compaixão, que nos coloca muito mais como observadores. Logo, é possível concluir que a empatia tende à irracionalidade, enquanto a compaixão deixa uma janela aberta para a razão.”

            Vamos pensar sobre o assunto?




2 comentários:

  1. Curiosa a posição do sujeito. Só não ficou clara a exclusão de uma pela outra: não é possível sentir empatia e também compaixão? Não seria uma questão de analisar com clareza cada situação humana?

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  2. Sim, vamos pensar sobre o assunto. Gosto muito do assunto, pois venho estudando sobre o sentimento de compaixão. Entendo que sentimento este sim maior que a empatia. A compaixão é um sentimento que podemos ir trabalhando e desenvolvendo e caminha junto com nossa evolução como seres.

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