sexta-feira, 1 de julho de 2016

Escrever à mão faz bem à saúde

Com o sugestivo título “Não acabem com a caligrafia: escrever à mão desenvolve o cérebro”, o pediatra Dr. Perri Klass (New York Times, 25/06/2016, por Fernando Donasci para UOL)
recomenda cuidado para que o mundo digital não anule experiências significativas para o desenvolvimento das crianças.
Virginia Berninger, professora de Psicologia Educacional da Universidade de Washington, em artigo publicado este ano no The Journal of Learning Disabilities, mostra como a linguagem oral e escrita se relaciona com a atenção e com o que é chamado de habilidades de "função executiva" (como planejamento) em crianças do quarto ao nono ano. As pesquisas sugerem que "escrever à mão – formando letras – envolve a mente, e isso pode ajudar as crianças a prestar atenção à linguagem escrita".
Em artigo no Journal of Early Childhood Literacy, Laura Dinehart, professora de Educação da Primeira Infância na Universidade Internacional da Flórida, afirmou que “em uma população de crianças pobres, as que possuíam boa coordenação motora fina antes mesmo do jardim da infância se deram melhor mais tarde na escola. Esse mito de que a caligrafia é apenas uma habilidade motora simplesmente está errado. Usamos as partes motoras do nosso cérebro, o planejamento motor, o controle motor, mas muito mais importante é a região do órgão onde o visual e a linguagem se unem, os giros fusiformes, onde os estímulos visuais realmente se tornam letras e palavras escritas.”
Parece, portanto, que o processo cognitivo de ler pode estar conectado com o processo motor de formar letras.
O artigo acrescenta: “Larin James, professora de Ciências Psicológicas e do Cérebro na Universidade de Indiana, escaneou o cérebro de crianças que ainda não sabiam caligrafia. "Seus cérebros não distinguiam as letras; elas respondiam às letras da mesma forma que respondiam a um triângulo", conta ela. Depois que as crianças aprenderam a escrever à mão, os padrões de ativação do cérebro em resposta às letras mostraram mais ativação daquela rede de leitura, incluindo os giros fusiformes, junto com o giro inferior frontal e regiões parietais posteriores do cérebro, que os adultos usam para processar a linguagem escrita – mesmo que as crianças ainda estivessem em um estágio muito inicial na caligrafia.”
Estudos sobre anotações feitas à mão sugerem que "alunos de faculdade que escrevem em teclados estão menos propensos a se lembrar e a saber do conteúdo do que se anotassem à mão", conta Laura Dinehart.
            O Louco acrescenta: escrever à mão é terapêutico!
            Em verdade, tenho afirmado que escrever é terapêutico. Escrever à mão, em vez de usar o teclado, acrescenta alguns elementos. Em geral o manuscrito é mais lento em sua execução, e consequentemente aquele que escreve tem mais tempo para pensar. Se a escrita torna-se mais lenta e mais “pensada”, pode ter efeito tranquilizador.
            Lamento profundamente que tenhamos perdido o hábito de escrever cartas à mão.
            Aproveito para relatar aqui uma experiência pessoal que ainda me é grata, depois de tantos anos. Meu pai sempre teve uma bela caligrafia. Já idoso, pedi-lhe que escrevesse meu próprio nome numa folha em branco; escaneei-a e fiz dela meu cartão de visitas. Sempre que o apresento a alguém (o que é raríssimo hoje em dia), recebo elogios, Que cartão lindo!, e então explico que a letra é de meu pai.






3 comentários:

  1. Adorei a ideia do cartão ! Texto delicioso.

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  2. Poucas vezes se vê homenagem mais tocante à figura do pai. É como guardar nestas letras um pouco da mão que nos conduziu, um dia, nos primeiros passos.

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  3. Que ideia maravilhosa,meu amigo.O melhor exemplo de escrita terapêutica que vi até agora.Voce eternizou um lindo momento e o guardou na carteira.

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