terça-feira, 3 de maio de 2016

Aprender a observar


           
           Amy E. Herman, especialista em percepção visual, levou um grupo de policiais de Nova York ao Metropolitan Museum of Art para ensiná-los a observar detalhes. É o que informa Sarah Lyall, do New York Times (2/5/2016).
Policiais sabem pouco sobre arte – raramente vão a museus –, e Herman disse que isso não é um problema:
"Já tive gente que falou odeio arte, e eu disse: Isso não vem ao caso. Não se trata de uma aula de Pollock versus Picasso. Não estou dando uma aula de arte – estou usando arte como um novo conjunto de dados, para ajudar vocês a limparem sua mente e utilizar as habilidades que vocês empregam no trabalho. Minha meta é que quando vocês saírem daqui, estejam encarando seu trabalho de outra maneira."
Para Amy Herman, uma pintura “é um repositório valioso de detalhes visuais que pode ajudar a lançar luz sobre, por exemplo, o modo de se abordar a cena de um homicídio”.
Herman inspirou-se num programa que levava estudantes de medicina de Yale para estudar obras de arte, a fim de melhor observarem seus pacientes. Mais tarde ampliou o programa para além da medicina. Ela acaba de lançar o livro "Visual Intelligence: Sharpen Your Perception, Change Your Life".
Eis mais uma função da obra de arte: aguçar a percepção visual!
Por analogia, penso que aguçar a percepção que temos das pessoas certamente nos traria benefícios, para o bem e para o mal. Ao longo da vida, acumulamos decepções sobre certos indivíduos, em quem depositamos grandes expectativas. Afirmo que só se desilude quem se ilude.
A ilusão não será um engano de nossa percepção das coisas e das pessoas?
Certa vez fomos eu e meu querido irmão a uma exposição de fotografias – já não me lembro do nome do fotógrafo famoso –, todas em preto e branco, e começamos a analisá-las, cada um apontando os detalhes que mais nos chamavam a atenção, a luz, a sombra, o contraste, o imprevisto, o instantâneo, até que notamos que um rapaz nos seguia discretamente. Às tantas, perguntamos a ele por quê nos acompanhava, e, para nossa surpresa, nos informou que era guia daquela mesma exposição, e que estava aprendendo muito com nossas observações. (Nunca fomos especialistas no assunto, é bom que se diga.) Além de lisonjeado, aprendi que observar obras de arte acompanhado de um bom interlocutor pode ajudar a aguçar nossa percepção.
Encerro esta pequena crônica com a ideia de que aguçar a percepção também constitui uma forma de se auto-educar. Tudo, de resto, é uma questão de educação.


Foto: Spencer Platt / Getty Images

Um comentário: