quinta-feira, 14 de abril de 2016

Pois é assim que se perde um amigo


    Eu tinha um amigo.
            Conheci-o ainda da faculdade, aluno brilhante; foi quando nos tornamos amigos.
            Formou-se, casou-se, nossa amizade cresceu; frequentava sua casa, ele me visitava, saíamos para jantar.
            O carinho com que nos tratávamos era de despertar inveja e ciúme.
            Acompanhei sua dor na morte da mãe; em minha doença, ele foi de valor inestimável; minha gratidão.
            Eu aprendendo com ele, homem cultíssimo, de memória privilegiada; de tudo, um pouco: literatura, poesia, música, política, filosofia.
            Conversávamos sobre assuntos que com poucos eu poderia conversar.
            Poeta, emprestava-me seus poemas para que os postasse em meu blog.
            Nossos encontros começaram a rarear; mesmo assim, falávamos ao telefone duas ou três vezes por semana; para mim, a mesma amizade de sempre; meu sentimento.
            Viajei; quando voltei, ele não atendeu ao meu chamado; insisti, chamei chamei chamei, até que recebi a mensagem, Silêncio, por favor.
            Não nos falamos mais; às vezes tenho notícias dele por conhecidos comuns; me dizem que está bem.

            Pois é assim que se perde um amigo.

3 comentários:

  1. Que tristeza. Não precisava ser assim. O silêncio é uma espécie de terrorismo: não se tem arma contra ele.

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  2. O silêncio, grande pérola, também pode ser usado como ato de violência.

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