A notícia é alvissareira e merece ser comemorada: as
notas médias na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015
subiram 10%, quando comparadas com o ano anterior.
O tema da redação foi "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira".
Dos 5.631.606 textos corrigidos, 104 obtiveram nota mil. Receberam nota zero
53.032 e as provas foram anuladas.
De acordo com o Inep, foram anuladas as redações que
fugiram do tema ou desrespeitaram os direitos humanos.
Reproduzimos aqui uma redação nota mil, liberada pelo
Inep.
“A violência contra a
mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas.
De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa
aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014
relatou cerca de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses
a psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste
por ter raízes históricas e ideológicas.
O Brasil ainda não
conseguiu se desprender das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque,
ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em relação às
mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce
mulher, torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o
sexo feminino tem a função social de se submeter ao masculino,
independentemente de seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher
livre. Dessa forma, os comportamentos violentos contra as mulheres são
naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do
patriarcado. Consequentemente, a punição para este tipo de agressão é
dificultada pelos traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato
é aumentada.
Além disso, já o
estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da
superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no
cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas
apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se
submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma
cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob
a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor
ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher
reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.
Pode-se perceber,
portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a
erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação
seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de
propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a
usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão
contra o sexo feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um
projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível
diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher
deixe de ser uma utopia para o Brasil.”
Infelizmente, o desempenho em ciências da natureza,
linguagens e matemática piorou. Mas houve crescimento na prova de ciências
humanas.
Enfim, continuamos
patinando em Educação.
10 por cento. Será estatisticamente significativo? Ou mera variação casual? Esperemos pelo ano que vem.
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