quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Iatrogenia da palavra 2

Em post recente, este blog tratou daquilo que agora convencionou-se chamar de iatrogenia da palavra. Ou seja, não são apenas os efeitos colaterais e as interações medicamentosas que podem causar danos ao paciente; a palavra mal colocada também pode ser danosa.  
(http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2016/07/iatrogenia-da-palavra.html#comment-form )
Como sempre, os comentários do Dr. Paulo Sergio Viana ora corrigem, ora acrescentam, àquilo que aqui é publicado, para honra e alegria do Louco. Dessa vez não foi diferente; eis as observações dele:

“Assim como contribui para o tratamento, pode também levar ao desastre. A palavra é poderosa. Em relação às dificuldades enfrentadas pelos médicos, há que se lembrar que ele deve se abster também de mentir, ainda que por compaixão. Como então falar a verdade sem lesar? Tarefa verdadeiramente difícil!”

            O dilema proposto por Dr. Paulo é verdadeiro, real, cotidiano: como dizer a verdade sem causar dano maior?
            Se o paciente pergunta ao médico sobre a origem e natureza de sua doença, nos dias atuais não há lugar para a mentira, nem aquela dita piedosa (a não ser em casos excepcionais, de pacientes muito graves, em idade muitíssimo avançada, praticamente incapazes de pensar sobre a própria condição física, ou moribundos). A regra é que a verdade deve ser dita; é direito do paciente conhecê-la.
            Apenas uma boa relação médico-paciente, onde a confiança mútua está solidamente estabelecida, permite que se dê uma má notícia, sem que o paciente a receba como uma agressão.
Se isso não pode ser feito numa primeira consulta, melhor esperar,  conversar um pouco mais com o paciente, fazê-lo compreender que o médico realmente pode e deseja ajudá-lo.
Diante das difíceis perguntas formuladas pelo paciente, uma boa técnica é que se responda com outra pergunta. Por exemplo: Por que o senhor está me perguntando isso? Aos poucos, decifrando a linguagem simbólica do paciente, o médico ajuda-o que ele mesmo ofereça as respostas, conhecedor melhor do que ninguém de seu próprio corpo.
Mesmo assim, não se trata de tarefa fácil, como alerta Dr. Paulo. Requer paciência, empatia, e muito cuidado com as palavras.
E o assunto não se esgota aqui...



Um comentário:

  1. Muito bom acréscimo. Esperamos por "Iatrogenia da palavra 3". Que tal tratar do fato frequente de o médico falar uma coisa e o paciente/familiar entender outra? Recentemente fui chamado para atender uma paciente internada que chorava desesperadamente: seu médico tinha dito que seu problema de saúde era "crônico". Ela entendeu "incurável".

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