Definição de Iatrogenia:
trepanação desnecessária
trepanação desnecessária
Com o sugestivo título “Diagnóstico
insensível ou 'na lata' pode atrapalhar tratamento médico”, Cláudia
Collucci (Folha de S. Paulo, 31/07/2016) escreve sobre a possível influência da
fala do médico sobre seu paciente. Logo de cara cita um exemplo que é um soco
no estômago do leitor:
"Aproveita
o teu filho porque você tem pouco tempo de vida." Foi o que disse um
médico à costureira Edilene Bolkart, 36, após informá-la sobre uma metástase
óssea. [...] Vitor, então com nove anos, estava ao lado da mãe quando ouviu a
sentença médica. "Fiquei muito mal, mais por ele ter falado na frente do
Vitor. Meu filho reagiu e disse: 'Deus não vai deixar acontecer nada com você,
mamãe', lembra, emocionada.”
E Collucci conclui: “Não são apenas remédios
e procedimentos médicos que podem fazer mal ao paciente e trazer complicações
jurídicas a profissionais de saúde. As palavras também têm potencial de causar
danos.”
O Louco assina em baixo.
A expressão é nova, para descrever um fato
antigo, que se repete ao longo do tempo: iatrogenia
da palavra!
Ou seja, não são apenas os efeitos
colaterais e as interações medicamentosas que podem causar danos ao paciente; a
palavra mal colocada também pode ser danosa.
Outro
exemplo de uma “fala médica iatrogênica” citada no artigo ainda é mais
chocante: Mulher, 30 anos, recém-casada e com um bebê de colo, teve diagnóstico
de um tumor cerebral e, durante uma consulta, o marido perguntou ao
neurologista o que poderia esperar pela frente. "A morte", foi a
resposta do médico.”
Para o
geriatra Paulo Canineu, professor de gerontologia da PUC-SP, “esses conflitos
na comunicação entre médico e paciente ocorrem, em geral, por falta de educação
do profissional de saúde. É coisa que se aprende (ou não) lá atrás, com os
pais.” Segundo Canineu, o diagnóstico da doença de Alzheimer é um outro momento
passível de atritos. Para que haja aderência ao tratamento, como atividades
físicas, cognitivas e sociais, é preciso a motivação do paciente e da família. “Um
diagnóstico na lata pode prejudicar essa adesão”, afirma o geriatra.
O caso mais dramático é de um
infectologista que recebeu um paciente de 15 anos encaminhado por um colega. “Ele
havia tido acesso ao histórico clínico do garoto, mas não sabia que a família
desconhecia que o filho tinha HIV. O médico já começou a consulta mencionando o
fato, na frente do adolescente, o que causou um desespero geral. No dia
seguinte, o menino cometeu o suicídio.”
Este blog tem publicado insistentemente sobre relação médico-paciente. O tema é sempre atual. Assim, passo a relatar experiência pessoal,
com o cuidado de, antes de mais nada, livrar o colega que me atendeu de qualquer
má intenção, desleixo para comigo ou negligência. Ao contrário, trata-se de
profissional competentíssimo, dedicado, sensível, e mais, um amigo. Em meio à
consulta, conversávamos sobre generalidades em Medicina – conversa entre dois
médicos –, sobre o momento atual da profissão (ele é cardiologista) e suas
dificuldades, e foi aí que o colega saiu-se com a pérola:
– Hoje ninguém mais morre de câncer ou
de infarto; todos morrem dementes.
Ele sabia que eu sou portador de um
câncer e que havia tido um infarto há pouco tempo. Então, só me restava a
demência.
O pavor de demência há de me acompanhar
até meus últimos dias. Profissão difícil, esta, a do médico, humano que é, demasiado humano.
Assim como contribui para o tratamento, pode também levar ao desastre. A palavra é poderosa. Em relação às dificuldades enfrentadas pelos médicos, há que se lembrar que ele deve se abster também de mentir, ainda que por compaixão. Como então falar a verdade sem lesar? Tarefa verdadeiramente difícil!
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