terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Autoridade e corrupção

Oportuna a crônica de Francisco Daudt de 23/12/2015 na Folha de São Paulo, sob o título de Corrupção da Autoridade.
Quando se fala de corrupção nos dias de hoje, pensa-se em roubo, malversação do dinheiro público, propina, compra e troca de favores, jogo de influência, tudo isso e muito mais em benefício próprio e contra o país. Porém Daudt alerta que “o sentido original da palavra é deterioração, apodrecimento, estrago”.
            Ele passa sem mais delongas a falar da educação dos filhos, tema abordado com frequência neste blog, e afirma que a autoridade desapareceu, as crianças tornaram-se mimadas, e, por consequência, “não se sentem protegidas pela força moral de quem deveria lhes servir de referência”.
Quando do nascimento de um filho, exercemos sobre ele o poder total: decidimos o que ele come, como se veste, a que horas vai para a cama, quando toma banho, tudo, decidimos tudo por ele, porque é preciso. “Nossa melhor autoridade será exercida como a de um déspota esclarecido”, afirma Daudt.
Mas a criança cresce, tem vontade própria e a manifesta a todo momento, tem suas necessidades, aprende rapidamente a pensar, mesmo que no início seja um pensar muito mais voluntarioso do que racional. A questão agora é preservar a autoridade dos pais. Estes, tomados de excessivo amor pelo filho, correm o risco de tornarem-se permissivos, e perder a autoridade. Pobre criança.
O articulista se pergunta sobre o que teria ocorrido com o conceito de autoridade entre nós e enumera dois fatores: uma ditadura militar e uma reviravolta de costumes mundial. “A primeira fez com que autoridade e autoritarismo parecessem sinônimos. ...Vinte e um anos de autoritarismo foram suficientes para que o senso comum absorvesse a ideia de que qualquer exercício de autoridade é abusivo em si. A reviravolta nos costumes teve como ícone o maio de 1968 e seu "é proibido proibir", o advento da pós-modernidade e seu clima de negação de valores, de aversão a qualquer coisa que parecesse hierarquia... e autoridade.”
            O exercício da força, própria do poder de mando da autoridade, pode ser exercida pela intimidação ou pelo saber. Agora Daudt é categórico: “A autoridade de saber é a mais eficaz das autoridades.”
            Penso que assim devem pensar e agir os pais que cuidam de crianças ainda pequenas, tão necessitadas de autoridade, para crescerem neste mundo hostil. Amar também é isso, ou é principalmente isso.





2 comentários:

  1. O delicado exercício da resenha aprimora quem a lê e na certa quem a escreve. Se acrescentarmos nesse explosivo pote cultural o tema da autoridade (por vezes autoritarismo) da escola e do professor, nossa! é de rachar o pote! A corrupção na e da escola (no sentido original) pulveriza o ensino e devasta a aprendizagem. Ambas quase deixam de existir, sufocadas pelos desmandos. Cabe nova crônica tão perspicaz quanto esta. Boa trabalho, André Luiz Vianna!

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    1. Baita observação! Escola autoritária ou com autoridade é tópico que influencia gerações, literalmente.

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