O
humor judaico é nosso conhecido, quase sempre manifesto em forma de piadas, de
preferência com a mãe no meio. Agora ele chega também à Literatura.
Surgem entre nós duas traduções de
Etgar Keret, nascido em Tel Aviv em 1967, escritor, diretor de cinema e
roteirista de histórias em quadrinhos. Refiro-me a dois livros do autor: De
repente, uma batida na porta (Tradução de Nancy Rozenchan) e Sete anos
bons (tradução de Maria Parula), ambos editados pela Rocco (2010, 2015) e
com boas traduções.
Salman
Rushdie chamou-o e “um escritor brilhante, totalmente diferente de qualquer
outro. A voz da próxima geração.”
El País confirmou este ponto de vista: “O
estilo de Keret é tão original que é difícil de rotular. Não há equivalente em
nenhuma geração de novos escritores de qualquer lugar.”
E
a BBC acrescentou : “Se Kafka tivesse sido um comediante, suas histórias
provavelmente se pareceriam com as de Keret.”
O
escritor mistura humor e ironia com o nonsense
kafkiano, características que, penso eu, aplicam-se bem à cultura judaica. Os
temas são os mais prosaicos: conversas de mães em parques de Tel Aviv, os
incidentes de uma viagem de avião, relato de um sonho recorrente, uma visita ao
Leste Europeu, as viagens do escritor para participar de mesas literárias pelo
mundo, a relação nem sempre pacífica entre pais e filhos, o que o filho pequeno
vai ser quando crescer, mais especificamente se vai entrar para o Exército ou
não.
Assim
tem início o conto intitulado Escrita criativa:
“O primeiro conto que Maya escreveu foi sobre um mundo em que as pessoas
se dividem em duas, em vez de se reproduzir. Nesse mundo cada pessoa pode, a qualquer momento, se
transformar em dois seres, cada um com metade de sua idade. Há quem escolha fazer
isso enquanto jovem, mulheres de dezoito anos se dividem em duas meninas de
nove. Outros esperam até se estabelecer profissionalmente, e fazem isto apenas
na meia-idade.”
Convenhamos,
é um bom começo para uma boa história! Vale a pena conferir.
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