O excelente escritor e psicanalista Francisco Daudt publica na Folha de hoje a crônica intitulada “Consolo” (1), e formula uma pergunta direta e interessante: “E quem, como eu, não tem religião? Como faz para se consolar do desamparo e da solidão?”
Ele
mesmo responde:
“Pois venho
conversando com elas, as filosofias, e o que tenho ouvido delas me é de grande
consolo. Primeiro foi a escola grega dos estoicos. Um estoico é alguém que
simplesmente aceita a realidade que não pode ser mudada. ...Depois foram os
céticos. Esses buscadores do conhecimento ("episteme") reconhecem que sua procura não tem fim, já que não
chegam a nenhuma certeza absoluta, e sim a verdades funcionais.”
Ao final, Daudt
confessa que precisa de referências. Entenda-se, precisa de consolo, como todos
nós, humanos. Não digo que todo o tempo, mas de vez em quando todos precisamos
de um colo. Bom admitir isso, pois dá a medida de nossa humana fragilidade.
Se a religião pode
desempenhar este papel para um grande número de pessoas, ótimo! Voltemos à
pergunta do cronista: e quem não tem religião?
Ele citou a Filosofia.
Eu acrescento a Arte.
Dentre as artes, penso
que a Literatura pode nos servir de grande consolo. Desde de Sófocles até os
contemporâneos, passando indispensavelmente por D. Quixote e William Shakespeare.
A lista dos “consoladores” é interminável. Kafka é um grande consolador! (“O
Processo” e “O Castelo” indicam claramente que o sentido da vida é a falta de
sentido da vida.) José Saramago, idem. Nelson Rodrigues, com a sua “A vida como
ela é”, também consola. Cada um de nós tem seus autores favoritos, e esta
pluralidade de pontos de vista é bastante saudável (o que não ocorre com as
religiões...).
A Música pode
desempenhar o mesmo papel. Se não chega a consolar, acalma, relaxa,
tranquiliza, tão prazerosa que é. Estou a pensar em Bach, Mozart, Beethoven,
Brahms, Chopin, Villa-Lobos, Arvo Pärt. Há quem prefira outros estilos: nada
contra, se o efeito é o mesmo.
Se as finanças
permitirem, viajar para Paris e visitar aqueles maravilhosos museus também será
um ótimo consolo, além de comer pato e beber o vinho nacional. (Há quem prefira
as churrascarias...)
Não canso de repetir
que, para mim, poder escrever é um grande consolo, pois ajuda a pensar melhor e
enfrentar os tais desamparo e solidão a que se refere Francisco Daudt.
Seria o título associado à forma da escultura uma blague???
ResponderExcluirHá muitas interpretações possíveis para a imagem e o texto. Ficam por conta de cada leitor.
ResponderExcluirMagnífico texto, tanto do ´louco´ como do jornal. Chama-se honestidade, quando um autor diz ´não sei, não critico´. O que não o impede de pensar, de ter uma opinião, sempre provisória. Enquanto isso, confessa sua precariedade e clama por consolo.
ResponderExcluirQuanto à Venus da foto, fica claro que o ´louco´ prioriza o belo como consolo... De preferência, feminino.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO tema do uso da literatura para o desenvolvimento da fala interna é recorrente no Loucos!
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