sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Os cães de rua de Moscou



Um ser extraordinário, esse homem conhecido pelo nome genérico de pesquisador! Quase sempre um obstinado, às vezes visionário, eventualmente idealista, sempre inteligente, disciplinado, e acima de tudo, centrado, com todas as suas forças, em seu objeto de estudo. Um animal superior, sem dúvida.
            O russo Andrei Poyarkov, do A.N. Severtsov Institute of Ecology and Evolution, é um desses homens. Biólogo especialista em lobos, vem observando os cães de Moscou – aproximadamente 35 mil espalhados pelas ruas da cidade, ou seja, um cão para cada 300 pessoas – nos últimos 30 anos. Entre esta grande população de cães de rua, uma pequena minoria, em torno de 500 indivíduos, tem sido objeto de particular interesse, composta por animais que frequentam ou habitam o metrô e aprenderam a usar os trens para se locomover. (Faço aqui uma ressalva: infelizmente não tive acesso às publicações originais, de modo que posso incorrer em erro, amparando-me em artigos difundidos pela Internet. Fiquemos com a essência da notícia.)
A maioria desses animais apresenta características físicas semelhantes: tamanho médio, pelo longo, cabeça em forma de cunha, olhos amendoados, caudas longas e orelhas eretas. A disponibilidade de uma quantidade suficiente de alimento tem mantido a população estável em mais ou menos 35 mil animais. Muitos filhotes nascidos nas ruas não alcançam a idade adulta; os que conseguem atingi-la, substituem os adultos que morrem regularmente. Cães com mais de 10 anos são raros.  
Poyarkov observou que os cães foram perdendo a pelagem malhada, o costume de abanar o rabo e a afabilidade, características que separam os cães dos lobos. Classificou os animais em 4 grandes grupos, de acordo com seu comportamento social e relacionamento com humanos.
1 - Cães selvagens: hábitos noturnos, evitam humanos, vistos como uma ameaça.
2 – Cães buscadores de comida: semisselvagens.
3 – Cães de guarda: veem determinados humanos como seus líderes e os seguem.
4 – Cães pedintes: são os mais inteligentes, sociáveis, porém não afetuosos ou próximos dos humanos.
Os cães pedintes não se incomodam com a alta concentração de humanos em lugares públicos e chegam a dormir em áreas muito movimentadas, inclusive nos bancos das estações e trens do metrô. Eles podem viver em alcateias, não são necessariamente os mais fortes ou dominantes, mas são os mais inteligentes,  dependentes dos líderes, reconhecidos como tal pelos outros membros do grupo. Nos bandos de pedintes, os mais espertos são os cães alfa, não os fisicamente mais fortes.
Os bandos utilizam-se de seus membros menores e mais bonitinhos, pois estes têm mais sucesso quando pedem comida às pessoas. Outra técnica para conseguir alimento é chegar por trás de uma pessoa que está carregando algo comestível e latir, assustando-a e fazendo com que, eventualmente, derrube o almoço ou a janta do dia.
Os cães aprenderam com os humanos a atravessar a rua e até como obedecer ao semáforo; como eles não podem ver cores, talvez sigam outras pistas, como as formas ou posições dos sinais.
Em lugares de grande movimento os cães aprenderam que não precisam fazer muito esforço para conseguirem comida, já que muitas pessoas dão alguma coisa ao passar por eles. São raros os cães com aparência de desnutridos. Como não há necessidade de se competir por comida, o comportamento tornou-se mais sociável.
Dentre os habitantes do metrô, acredita-se que vinte deles aprenderam a  usar o sistema para se locomoverem. Podem ter desenvolvido habilidade em reconhecer o tempo em que passam dentro do carro entre uma estação e outra; habilidade em reconhecer os nomes das estações anunciadas pelas gravações; sentir o cheiro de determinadas estações; ou uma combinação de todos estes fatores. Parecem preferir vagões mais vazios, localizados na parte da frente ou de trás do trem. Eugene Linden, um especialista em inteligência animal, acredita que o comportamento dos cães apresenta “raciocínio flexível e pensamento consciente”.
E os humanos, como reagem ao fenômeno? Parece que os cães são vistos ao mesmo tempo com afeto e como um problema. Muitas pessoas os alimentam; outras constroem pequenos abrigos para o inverno. Os cães passaram a ser considerados por muitos como um componente característico da cidade de Moscou. Campanhas de castração tiveram pouco impacto em reduzir a população canina.
            Bem, este blog não podia deixar de dar a notícia, com os cumprimentos ao senhor Andrei Poyarkov, uma vida dedicada aos cães de rua de Moscou.




Um comentário:

  1. Em São Paulo poderia haver um Poyarkov que observasse os moradores de rua...

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