Enfim, um filme do qual se pode falar
livremente sobre o enredo, sem frustrar o futuro expectador. Nas primeiras
cenas o tema torna-se explícito: uma mãe, num surto psicótico, mata a própria
filha de nove meses de idade, cortando-lhe o pescoço.
O
que mais assusta é que o filme Tristeza e
alegria (Sorg og Glaede) é autobiográfico, o diretor dinamarquês Nils
Malmros viveu mesmo aquela tragédia, vinte anos atrás. Executá-lo, parece que
foi o modo pelo qual ele e a esposa tentam superar um trauma aparentemente
insuperável.
Há
quem afirme que a principal função da tragédia grega era preparar o homem comum
para a dor e o sofrimento, através da ficção; caso fosse vítima deles algum
dia, no mundo real, o homem já os teria experimentado no teatro. Perder um
filho deve ser uma dessas dores impensáveis. Somente aqueles que passaram pela
experiência podem descrevê-la. Quem nunca experimentou jamais pode afirmar que
sabe o que o outro está passando, nem como tentativa de consolo.
Perder
um filho por tê-lo assassinado, “movido” por doença mental grave, bem, isso
está muito além da capacidade humana de sentir e pensar. Daí a importância de Tristeza e alegria.
Através
de diálogos delicados, o sofrimento do casal, dos parentes, dos amigos, é
exposto ao longo de todo o filme, levando o espectador a um estado crescente de
angústia. Superadas as cenas iniciais onde o acidente é apresentado, o enredo
trata da vida da mãe deprimida, portadora de psicose maníaco-depressiva (este é
o diagnóstico relatado), desde o tempo de solteira, passando pelo casamento,
até a chegada do bebê.
Em tempo, o filme pode ser descrito como asséptico. Quando o marido chega em casa, o sangue já foi removido, o colchão foi limpo, o corpo removido, a mãe internada sob forte sedação. Não há violência explícita, a violência é de outra ordem.
O marido, um atuante diretor de cinema, só consegue manter aquela relação por sua infinita amorosidade, o que é belamente expresso numa fala da esposa:
Em tempo, o filme pode ser descrito como asséptico. Quando o marido chega em casa, o sangue já foi removido, o colchão foi limpo, o corpo removido, a mãe internada sob forte sedação. Não há violência explícita, a violência é de outra ordem.
O marido, um atuante diretor de cinema, só consegue manter aquela relação por sua infinita amorosidade, o que é belamente expresso numa fala da esposa:
–
Você salvou minha vida!
Acompanhar
os altos e baixos de uma pessoa portadora de doença mental grave, e as
repercussões sobre a família, eis o sentido maior do filme de Nils Malmros,
indicado como representante do cinema dinamarquês ao Oscar de melhor filme
estrangeiro.
Ao
final do filme, o espectador já está no seu limite emocional, quando, deitados
numa cama, o marido faz à mulher a pergunta que nunca teve coragem para
verbalizar, passados vinte anos:
–
Ela chorou?
–
Ela gritou...
...
Quanto ao título do filme,
é bom ressaltar que Tristeza aparece desde a primeiríssima imagem; Alegria,
estou esperando até hoje.
e essa cena na qual ela mata o bebê é explícita? Ainda estou decidindo se vale a pena...
ResponderExcluirNão, Tatyana; embora o tema seja difícil, o filme é delicado, respeita o espectador. Os muito delicados não vão assistir.
ExcluirDepois de sua intervenção, Tatyana, acrescentei uma ou duas linhas ao texto original. Obrigado.
ExcluirAgora estou um pouco mais perto de tomar a coragem para ver o filme! Obrigada.
ExcluirPensei que soubesse o que é sofrimento. Não sabia.
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