terça-feira, 22 de setembro de 2015

"Como destruir um filho"

Este Louco tem comentado com frequência o tema “educação dos filhos” e as possíveis consequências sobre os estudantes em sala de aula.
João Pereira Coutinho, escritor e jornalista português, traz interessante crônica na Folha de S. Paulo de hoje (22/9), intitulada Como destruir um filho.
Ele inicia relatando o ocorrido em Harvard, quando estudantes de Direito sentiram-se "desconfortáveis" com a expressão “violar a lei” e pediram aos professores que a evitassem.
Segundo a revista Atlantic Monthly, “crescem nos Estados Unidos os casos de "micro-agressões" – palavras, conceitos, meras alusões que põem em risco o "bem-estar emocional" dos alunos. E os alunos têm direito a esse "bem-estar". As universidades devem ser "zonas de conforto" onde nunca se deve escutar aquilo de que não se gosta.”
Os professores universitários são aconselhados a prevenirem os alunos, que poderão ouvir palavras ou conceitos “potencialmente ofensivos”. Por exemplo, em se tratando de Literatura, “o professor deve avisar previamente a turma que "misoginia" e "abusos físicos" fazem parte da obra "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald. Caso contrário, uma alma mais sensível pode desmaiar em plena classe e a carreira do professor estará terminada.”

O artigo culpa os pais dos universitários de hoje, que educaram as suas crianças com uma obsessão pela segurança que não existia em gerações anteriores. Julie Lythcott-Haims, antiga decana da Universidade de Stanford, afirma:

“Antigamente, os pais preparavam os filhos para a vida; hoje, os progenitores preferem proteger os filhos da vida – e isso vê-se nas pequenas coisas e nas grandes coisas.”

Na infância surgem as ameaças dos pedófilos, sequestradores, marcianos, o que obriga os pais modernos a aprisionarem os filhos em casa. A primeira consequência é a epidemia de obesidade infantil, causada pelo sedentarismo.
Depois de proteger os filhos nos primeiros anos, é preciso continuar a tratá-los como “flores de estufa” até na universidade. E agora o artigo é enfático, ao explicitar como isso acontece:

“Escolhendo por eles (cursos, amigos, até tempos livres); pensando por eles (com exércitos de explicadores para todas as matérias curriculares); e até vivendo por eles (de preferência, medicando qualquer comportamento "desviante", como a preguiça saudável ou o excesso de energia).”

Em consequência, a universidade está cheia de alunos insones, deprimidos, ansiosos, incapazes de tomarem uma decisão por medo psicótico de fracassarem.
Para Julie Lythcott-Haims, “a educação "moderna" fez dos "adultos" de hoje seres "existencialmente impotentes". Porque os pais, na ânsia de tudo protegerem e controlarem, alimentaram nos filhos uma mentalidade de vítimas: seres frágeis e amedrontados que simplesmente não sabem como "funcionar" no mundo que existe fora do aquário.”
A autora lamenta ainda que “os filhos de hoje não tenham a atitude dos filhos de ontem: uma certa rebelião existencial contra a autoridade dos progenitores, condição primeira para forjarem uma identidade independente. E poderem voar com as próprias asas. Elas [as asas] foram destruídas pelo amor sufocante dos pais durante anos e anos de gaiolas douradas.”

Entre nós, já é possível identificar problemas semelhantes, com o aparecimento de uma geração de mimadinhos.



2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Lembra a história das águias? De como os filhotes delas aprendem a voar, tendo nascido lá no alto dos penhascos?

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