sábado, 12 de setembro de 2015

Aldravia



Ouvi hoje, pela primeira vez, a palavra aldravia, da boca de meu amigo Sergio. Ouviu falar em movimento aldravista, André? Não, nunca!
Pois o tal movimento, nascido em Mariana, MG, já completa dez anos de existência, com seguidores até mesmo na Europa. (O que atesta mais uma vez minha monumental ignorância!)
A palavra deriva de aldraba ou aldrava, peça móvel, geralmente de metal, que se prende às portas e que, quando batida contra essas mesmas portas, serve para chamar quem se encontra do lado de dentro. Aldraba vem o árabe aD-Dabbâ, passando pelo espanhol aldrava, segundo Deonísio da Silva (De onde vêm as palavras, Novo Século ed., 2009).
Resolvo exemplificar com uma aldravia (que geralmente recebe um número) de minha lavra. Perdoe o leitor, é a minha primeira aldravia:

01

minha
monumental
ignorância:
que
é
aldravia?


Segundo J.B. Donadon-Leal, um dos fundadores do movimento, “Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”, como a trova, o haicai, o soneto.
Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.”
O texto completo pode ser encontrado no Jornal Aldrava Cultural, lançado em novembro de 2000, e que coincide com o início do movimento aldravista ocorrido em Mariana, MG. (http://www.jornalaldrava.com.br/pag_aldravias.htm)
            Diz a norma que devem ser usadas apenas minúsculas, deve-se evitar a pontuação, exceto para ponto de interrogação e dois pontos, e que não pode tratar-se de uma simples frase composta de seis palavras.  


Eis um bom exemplo, de autoria de J.S. Ferreira:

sigo
cigano
em
busca
da
poesia

De Marisa Godoy:

abelha
morta:
menos
mel
no
pote

De Goreth de Freitas:

no
trem
da
noite
tateio
silêncios


            Este blogueiro não esconde sua predileção pelo que chama de Literatura Minimalista. Vamos ver no que dá esta aldravia.


6 comentários:

  1. Muito interessante. Mas é preciso esclarecer. "No trem da noite tateio silêncios." Não é uma frase completa?

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    1. Você tem razão, é uma frase completa, mas há duas imagens poéticas muito boas; perdoa-se o autor.

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    2. André, aqui em Juiz de Fora, temos bons poetas que já publicaram livros de aldravias...Ex.: Cecy Barbosa Campos, da nosa AJL, Academia Juiz-forana de Letras.

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  2. poesia
    tantas
    formas
    abre-se
    outra
    aldravia

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