Ouvi hoje, pela primeira vez, a palavra aldravia, da boca de meu amigo Sergio.
Ouviu falar em movimento aldravista, André? Não, nunca!
Pois o tal movimento, nascido em Mariana, MG, já
completa dez anos de existência, com seguidores até mesmo na Europa. (O que
atesta mais uma vez minha monumental ignorância!)
A palavra deriva de aldraba ou aldrava, peça móvel, geralmente de metal, que se prende às portas e que, quando
batida contra essas mesmas portas, serve para chamar quem se encontra do lado
de dentro. Aldraba vem o árabe aD-Dabbâ,
passando pelo espanhol aldrava,
segundo Deonísio da Silva (De onde vêm as palavras, Novo Século ed., 2009).
Resolvo exemplificar com uma aldravia (que geralmente
recebe um número) de minha lavra. Perdoe o leitor, é a minha primeira aldravia:
01
minha
monumental
ignorância:
que
é
aldravia?
Segundo J.B. Donadon-Leal, um dos fundadores do
movimento, “Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes
de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de
saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até
06 (seis) palavras-verso. Assim, tem-se uma nova forma, mas não uma “fôrma”,
como a trova, o haicai, o soneto.
Esse limite de 06 palavras se dá de forma
aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense
significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de
poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.”
O texto completo pode ser encontrado no Jornal
Aldrava Cultural, lançado em novembro de 2000, e que coincide com o início do
movimento aldravista ocorrido em Mariana, MG. (http://www.jornalaldrava.com.br/pag_aldravias.htm)
Diz a norma que devem
ser usadas apenas minúsculas, deve-se evitar a pontuação, exceto para ponto de
interrogação e dois pontos, e que não pode tratar-se de uma simples frase
composta de seis palavras.
Eis um bom exemplo, de autoria de J.S. Ferreira:
sigo
cigano
em
busca
da
poesia
De Marisa Godoy:
abelha
morta:
menos
mel
no
pote
De Goreth de Freitas:
no
trem
da
noite
tateio
silêncios
Este blogueiro não
esconde sua predileção pelo que chama de Literatura Minimalista. Vamos ver no
que dá esta aldravia.
Muito interessante. Mas é preciso esclarecer. "No trem da noite tateio silêncios." Não é uma frase completa?
ResponderExcluirVocê tem razão, é uma frase completa, mas há duas imagens poéticas muito boas; perdoa-se o autor.
ExcluirAndré, aqui em Juiz de Fora, temos bons poetas que já publicaram livros de aldravias...Ex.: Cecy Barbosa Campos, da nosa AJL, Academia Juiz-forana de Letras.
ExcluirSó eu que não conhecia, Nazaré!
Excluirpoesia
ResponderExcluirtantas
formas
abre-se
outra
aldravia
Está ótima, Sergio!!!
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