quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"Morreste-me"


  
                 Somente agora a editora Dublinense publica (2015) o primeiro livro escrito pelo  português José Luís Peixoto, originalmente lançado em Portugal no ano 2000, e que revelou este que é hoje o premiadíssimo autor.
            A prosa poética de Peixoto tem início pelo próprio título da obra:

Morreste-me

            Só os portugueses seriam capazes desta surpreendente e bela construção verbal!
            O livro trata da morte do pai, uma homenagem que certamente fez parte do processo de superação do luto pelo autor. (Mais uma vez, e não se cansa de repetir, este blogueiro faz referência à função terapêutica da escrita.)
            Eis uma pequena amostra do texto:

“E pensei não poderiam os homens morrer como morrem os dias? Assim, com pássaros a cantar sem sobressaltos e a claridade líquida vítrea em tudo e o fresco suave fresco, a brisa leve a tremer as folhas pequenas das árvores, o mundo inerte ou a mover-se calmo e o silêncio a crescer natural natural, o silêncio esperado, finalmente justo, finalmente digno.”

            A maneira como o autor encerra seu relato é belíssima e revela enorme paz de espírito:

“Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei.”

            Quando podemos sentir de verdade que aquele que parte permanece dentro de nós, este o maior alívio, o maior amparo possível diante da perda de um ente querido.


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